A mostra vai apresentar ao público livros da Coleção BBM, correspondências, recortes de jornais, entrevistas, livros raros, fotografias, diários, colaboração em periódicos, livros da biblioteca do autor com marginálias e documentos pessoais
No ano do centenário de nascimento de Dalton Trevisan, que seriam completados em 14 de junho, a Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin (BBM) da USP vai abrigar parte das atividades de comemoração com a realização da exposição Dalton Trevisan — Espião de almas, a partir do dia 20 de maio até 10 de agosto. O autor vem sendo tema de vários projetos e homenagens e terá sua obra completa reeditada pela Editora Todavia.
O escritor é uma das principais referências do conto no Brasil. Foram, ao longo de oitenta e cinco anos de carreira, 36 livros editados e sua obra se tornou nacional e internacionalmente conhecida graças às traduções e à repercussão dos prêmios literários. Ele articulou fragmentação, reescrita e rearranjos e forjou seu próprio universo literário, sem curvar-se à exposição midiática e distrações sociais. Produziu uma obra radical e única dentro da literatura brasileira.
Dalton Trevisan — Espião de almas expõe as cruezas do mundo, os desejos e as perversões humanas. O autor “combinou o cânone literário à violência cotidiana retratada em jornais. Vampirizar o mundo ao redor. Perseguiu a palavra exata, a forma breve. Sua obra segue assombrando”, é explicado sobre o nome da exposição, que tem curadoria de Augusto Massi, professor de Literatura Brasileira da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP; de Fabiana Faversani, representante literária de Dalton Trevisan e editora; e de Chico Homem de Mello, que é designer, professor e pesquisador, e também é o responsável pela expografia.
A exposição é uma homenagem que se faz à vida desse contista, através de uma visita guiada pela obra e vida do autor centenário. Será apresentada ao público, pela primeira vez, a coleção completa dos títulos de Dalton Trevisan doados à BBM: 21 traduções e 41 plaquetes (que podem ser chamados de livretes, caderninhos ou pequenas brochuras). Além dos itens da BBM, a exposição irá mostrar um recorte de itens inéditos do Arquivo Dalton Trevisan, que estão sob a guarda e foram gentilmente emprestados pelo Instituto Moreira Salles (IMS). O arquivo é composto de 31 cadernos e 2.954 laudas de diário pessoal; correspondência (2.297) com diversos escritores, teóricos, tradutores e editores, nacionais e estrangeiros, entre eles José Paulo Paes e Antonio Candido, cujos acervos estão sob a guarda do Instituto de Estudos Brasileiros (IEB), mas também toda a geração da Revista Pasquim e seus grandes amigos Otto Lara Resende, Hélio Pellegrino, Fernando Sabino e Rubem Braga.
Essa correspondência retraça seu projeto literário – pois este é, em geral, o tema abordado pelos correspondentes – e o amadurecimento do autor frente às suas questões como escritor. É aí que se vê o curitibano, geralmente conhecido por ser esquivo e reservado, falar de si e dar detalhes sobre o processo de produção dos contos, sobre a temática, percalços editoriais, além de espaço para exercícios de crítica literária, incorporados na sua produção literária, prova que, apesar de aparentemente isolado, continuou se atualizando e renovando radicalmente a obra.
Nos diários, anotava histórias ouvidas durante suas andanças ou lidas em jornais, hábitos alimentares e da rotina, queixava-se, comentava livros e filmes. Usava esses registros como esboço para os contos e, ao fim dos cadernos, colocava o título que receberia cada história e data. Colecionou recortes de temas variados, sobretudo de sua própria fortuna crítica e de crimes.
“O acervo fornece indícios importantes sobre a formação e consolidação do que atualmente reconhecemos como o estilo do autor. Nos permite acompanhar como se deu a recepção crítica à época e a postura do autor em relação ao imaginário criado em torno de si, tanto na escrita pessoal (diários e correspondência), como em entrevistas e na incorporação dessas figuras autorais na sua obra, uma cesta cheia de broinha de fubá mimoso, não só para entender sua produção literária, mas também, e principalmente, utilizada como fonte desta”, destaca a curadoria da exposição, composta de Augusto Massi, professor de Literatura Brasileira da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, e Fabiana Faversani, representante literária de Dalton Trevisan e editora. A expografia é de Chico Homem de Mello, que é designer, professor e pesquisador.
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