
Por Nara Almeida
Daniel Jaber deu seus primeiros passos na arte participando de aulas de dança, despretensiosamente. No entanto, o mundo imersivo da arte despertou sua veia criativa e o fez querer seguir carreira artística. Hoje, ator, roteirista e realizador audiovisual, Jaber é formado em Estatística pela Universidade Federal de Minas Gerais — curso que cursava paralelamente ao balé clássico. Desde então, se entrega de corpo e alma às vivências do cinema, oferecendo ideias inovadoras para fomentar a cena independente brasileira.
A formação multidisciplinar de Daniel molda seu olhar sobre o audiovisual e o mundo. A dança e o cinema estão sintonizados, sendo inextricável sua experiência como ator e roteirista. A partir do corpo — de seus estímulos e reações — ele desenvolve personagens e roteiros. A corporeidade é, para ele, uma bússola que guia a construção do universo dramático.
A formação em Estatística, que embora pareça um mundo à parte, foi justamente o que permitiu a expansão desse olhar. “Foi engraçado porque escolhi Estatística não porque gostava, mas porque era o único curso que cabia na minha grade de dança”, relembra. A mentalidade lógica e analítica, somada à vivência artística, foi a peça-chave para a criação da plataforma Cardume — streaming exclusivamente dedicado a curta e média-metragens nacionais, lançado em 2019.
A ideia da Cardume surgiu da experiência como ator, ao perceber a falta de espaço para realocar os curtas e médias exibidos em festivais de cinema, que acabam sendo inacessíveis ao grande público. “Às vezes, nem os filmes dos quais participei eu conseguia assistir. Não existia essa iniciativa de exibição desses trabalhos”, explica.
Diante desse incômodo, Daniel Jaber, juntamente com Luciana Damasceno, sua esposa, fundou a plataforma com o objetivo de valorizar as produções brasileiras, para que não fiquem engavetadas e cheguem a mais pessoas. A assinatura custa R$ 7,10 por mês, comporta mais de 190 filmes nacionais premiados e parte do lucro vai para seus produtores. Além de exibir curtas e médias-metragens, a plataforma investe também em ações de incentivo ao audiovisual, propondo debates, cursos gratuitos e editais de produção e parcerias entre pessoas do ramo criativo.
O desafio e a potencialidade do gênero curta estão na pouca duração, o que exige outras estratégias e estruturas distintas do longa. Com o obstáculo das janelas de exibição, é necessário abusar da criatividade para transmitir uma mensagem impactante em um tempo curto — e ainda levar o filme até o grande público. A potência do curta está nesse formato sintetizado que se alinha a novas formas de consumir arte, adaptando-se à rotina corrida de muitos e propondo uma experiência inclusiva.
Pensando nisso, o projeto mais recente é o Cine Cardume Rodoviária: salas de cinema dentro da rodoviária de Belo Horizonte, Minas Gerais. A iniciativa tem a missão de democratizar o acesso ao cinema. “O mais marcante é que 80% do público são pessoas que normalmente não têm contato com cinema”, conta Jaber, contente com o sucesso do projeto.
No dia 24 de abril, Daniel Jaber estará presente no aulão online do Circuito de Formação Cine Ninja “Vamos falar sobre a regulamentação do streaming?”, onde compartilha seu conhecimento sobre audiovisual, concentração de mercado e o papel da regulamentação das plataformas.
A sinergia é a pedra angular que sustenta a cena artística independente em momentos difíceis. O nome Cardume carrega esse significado: juntos, conseguem avançar mesmo em tempos de mar turbulento.