
Com o pedido, a empresa solicitou permissão para leiloar seu banco de dados de DNA; pesquisadores esperam continuar a ter acesso às informações, mesmo que elas sejam vendidas a novos proprietários
Por Fabiana Mariz
Em março de 2025, a 23andMe, empresa pioneira em testes de DNA, entrou com pedido de falência nos Estados Unidos. A ação veio após a queda na demanda pelos kits de testes de ancestralidade e um vazamento de dados que prejudicou a imagem da empresa.
Fundada em 2006 no Vale do Silício, California, a empresa também solicitou permissão legal para leiloar seus ativos, o que inclui seu banco de dados de DNA de cerca de 15 milhões de pessoas no mundo todo.
Um artigo publicado na seção News da revista Nature diz que uma invasão por hackers obteve informações de 7 milhões de usuários, o que desencadeou cerca de 35 mil processos contra a companhia. Ainda segundo a publicação, acredita-se que a empresa não teria recursos para enfrentar todos esses processos e, por isso, teriam optado pela falência e a venda da 23andMe. O anúncio levou procuradores-gerais dos Estados Unidos a orientarem os consumidores a baixarem seus dados e excluirem suas contas para proteger as informações pessoais.
“Além dos 15 milhões de usuários, a 23andMe deve dinheiro a companhias farmacêuticas, empresas de inteligência artificial e empresas de seguro saúde, o que sempre foi meu temor”, alerta Mayana Zatz, diretora do Centro de Estudos sobre o Genoma Humano e Células-Tronco (CEGH-CEL) da USP. “O problema é que uma vez que você fornece suas informações genéticas, não tem volta, e você não tem ideia como serão usados seus dados, como serão analisados ou monetizados, como serão protegidos contra hackers e quem terá lucro com isso”.
Mayana diz que há muita especulação a respeito, mas ela afirma que ninguém mais acredita na proteção de dados. “Me pergunto também qual será o impacto em várias outras empresas que copiaram o modelo da 23andMe”, conclui.
Decodificando o DNA
A coluna Decodificando o DNA, com a professora Mayana Zatz, vai ao ar quinzenalmente, quarta-feira às 9h, na Rádio USP (São Paulo 93,7; Ribeirão Preto 107,9) e também no Youtube, com produção da Rádio USP, Jornal da USP e TV USP.
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