
Por Cultura de Lamparina
O Oscar existe desde 1927 e ao longo de sua existência já premiou uma série de produções, bem sucedidas ou não nas críticas especializadas e populares. Nesta edição, o longa ‘Emilia Pérez’ se envolveu em grandes escândalos quanto a sua falta de representatividade e preconceito em relação aos mexicanos e às pessoas trans.
Mas, o filme de Jacques Audiard está longe de ser o primeiro longa-metragem polêmico a ser prestigiado pelo Oscar. Nessa lista, reunimos alguns dos mais problemáticos a ganhar prêmios em cerimônias da Academia.
‘… E o Vento Levou’

Começando com um filme bem conhecido: ‘… E o Vento Levou’. Vencedor de 10 das 13 indicações que recebeu da maior premiação do cinema em 1939, a adaptação do livro homônimo foi dirigida por Victor Fleming, mesmo diretor de O Mágico de Oz.
O filme conta a história de um casal, vividos por Scarlett O’Hara e Clark Gable, que se apaixona em meio ao contexto da Guerra Civil estadunidense. No ano em que foi lançada a produção, ainda havia segregação racial nos Estados Unidos, perdurando por muitas décadas. Ainda em sua época, a obra foi duramente criticada pela sua representação ufanista ao lado sul do país e pela forma como Fleming retratou o racismo da região.
Além disso, durante a entrega da premiação de Melhor Atriz Coadjuvante para Hattie McDaniel – a primeira mulher negra a realizar tal feito -, a organização do evento a impediu de subir no mesmo palco que os outros vencedores brancos.
‘Conduzindo Miss Daisy’

Saltando para 1990, ‘Conduzindo Miss Daisy’ também foi duramente criticado pela representação das pessoas negras. A comédia dramática que se passa durante os anos 40, é sobre uma idosa rica e judia (Jessica Tandy) que acidentalmente perde o controle de seu carro novo e, convencida por seu filho (Dan Aykroyd), decide contratar um motorista negro (Morgan Freeman).
A questão é que toda a trama gira em torno da “improvável amizade” entre brancos e negros e como a professora idosa ajuda seu motorista a ser “mais polido e educado” enquanto ele a faz perder seu preconceito racial. O filme ainda assim garantiu 4 estatuetas, incluindo o Oscar de Melhor Filme e Melhor Atriz para Tandy.
‘Green Book: O Guia’

Um outro longa de temática e problema semelhante é ‘Green Book: O Guia’, de 2018. A produção venceu o Oscar nas categorias de Melhor Filme, Melhor Roteiro Original, Melhor Ator e Melhor Ator Coadjuvante em 2019.
A cinebiografia se passa nos anos 60 com um pianista afro-americano famoso mundialmente, interpretado por Mahershala Ali, que, prestes a fazer uma turnê pelo sul dos Estados Unidos, decide contratar um ítalo-americano para ser seu motorista e guarda-costas (Viggo Mortensen).
Seguindo um caminho muito similar ao filme anterior da nossa lista, a trama envolve novamente a ideia de amizade improvável entre um branco e um negro em meio a um contexto de segregação racial. Este aspecto foi criticado pela redução da gravidade do cenário em que a história se passa e pela incongruência com a realidade. Segundo membros da família do músico, a amizade entre os dois foi inteiramente uma ficção. Esse fato fez com que o ator Mahershala Ali pedisse desculpas para a família do músico Don Shirley pouco depois da estreia.
‘Amor Sublime Amor’

Outro filme bastante criticado por sua representação de um grupo etínico racial foi ‘Amor, Sublime Amor’, de 1961. No musical, as gangues Sharks, formada por porto-riquenhos, e Jets, formada por brancos anglo-saxônicos, rivalizam na região oeste de Nova York seguindo um código próprio. Contudo, esse acordo é posto à prova quando Tony (Richard Beymer), antigo líder dos Jets, e Maria (Natalie Wood), irmã do líder dos Sharks, se apaixonam.
A trama praticamente shakespeariana não teria problema nenhum, como não teve no remake desse filme em 2021, exceto por conta da sua maquiagem e a escolha dos atores.
Muito similar ao ‘Emilia Pérez’, todos os atores não eram os mesmos da etnia representada nele. Como solução, a produção optou por maquiar os atores que davam vida aos membros dos Sharks com um tom de pele alaranjado e muito estereotipado.
Mesmo assim, conseguiram ser premiados em 10 das 11 categorias que foram indicados pela Academia, incluindo o de Melhor Figurino.
Vale lembrar que neste ano não existia a categoria de Melhor Maquiagem, incorporada de certa forma à categoria de Melhor Figurino.
‘Forrest Gump – O Contador de Histórias’

O fato deste filme figurar nessa lista pode doer em muita gente, mas o clássico com Tom Hanks também tem problemas quanto à representatividade das pessoas com deficiência.
‘Forrest Gump’, baseado em livro de mesmo nome, retrata a história dos Estados Unidos por meio da vida de uma pessoa com deficiência intelectual e dificuldade de aprendizagem.
Ao longo da trama, seu interesse amoroso, Jenny Curran (Robin Wright) é vista como mulher que sofre vários abusos, acaba se entregando às drogas, se envolvendo com homens violentos e contraindo HIV. Ao final do longa, e próxima da morte da personagem, ela dá ao Forrest um filho inteligente. A forma como tudo isso foi retratado soou como uma mistura de redenção ou compensação bem problemática.
‘Gigi’

O último filme da lista tem sua vitória bastante questionável nas categorias de Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Roteiro Adaptado e principalmente Melhor Canção Original.
Isso porque sua história se baseia na ideia de que na França tudo é permitido, incluindo a prostituição da protagonista. No longa, Gigi tem 14 anos de idade e o contexto em que vive é passado como algo alegre. O musical, protagonizado pela atriz Leslie Caron, tem como música-tema uma espécie de agradecimento aos céus por “menininhas” que é cantada pelo tio (Maurice Chevalier) do outro protagonista, um rico solteirão (Louis Jourdan) que se apaixona por Gigi.
De acordo com matéria do Adorocinema, o gato que aparece em algumas cenas com a Gigi, foi dopado porque não conseguia contracenar com Leslie Caron, arranhando-a sempre. O diretor insistiu que o gato fosse usado mesmo assim.
Texto produzido em colaboração a partir da Comunidade Cine NINJA. Seu conteúdo não expressa, necessariamente, a opinião oficial da Cine NINJA ou Mídia NINJA.