
Na madrugada da edição do Big Brother Brasil, o participante Vinicius Nascimento, natural de Santo Antônio de Jesus, interior da Bahia, protagonizou um dos momentos mais potentes de sua existência – e, de certa forma, também doloroso. Em conversa com outros colegas de confinamento, ele finalmente se sentiu à vontade para falar sobre sua sexualidade e se assumiu bissexual. A fala surgiu em uma conversa entre participantes,indagação feita por Vitória Strada no início da temporada, quando ela o perguntou se fazia parte da comunidade LGBTQIAPN+. E na oportunidade de acolhimento , ele respondeu – naturalmente.
Esse momento, transmitido para milhões, transcende o entretenimento e escancara uma das feridas abertas da sociedade brasileira: o medo. Medo de decepcionar a família, medo de ser rejeitado, medo de não ser amado. Vinicius admitiu que nunca se sentiu pronto para se assumir fora do programa, especialmente por viver em uma cidade pequena e provavelmente conservadora, onde a pressão familiar e social coíbe a possibilidade de viver de forma diversa.
A confissão pública de Vinicius é mais do que um ato pessoal. É um reflexo do luto silencioso que muitos corpos LGBTQIAPN+ vivem diariamente – um luto não pela morte física, mas pela morte simbólica de si mesmos. Uma existência atravessada por silêncios forçados, olhares desviados e afetos escondidos.
Vitória Strada o acolheu com empatia afirmando que : “O caráter continua sendo o mesmo, independente de com quem você se relaciona.”
Uma frase simples, mas que ainda precisa ecoar em muitos lares — especialmente naqueles onde o desacolhimento nasce dentro de casa, camuflado em cobranças sutis, práticas religiosas ou valores morais e conservadores que, muitas vezes, não dizem diretamente “não te aceito”, mas fazem de tudo para coibir a existência plena de um corpo LGBTQIAPN+.
“Quando um homem preto, nordestino, cria coragem para se abrir ao mundo em rede nacional, ele não está apenas se libertando — está rompendo muralhas que, por gerações, mantiveram tantos em silêncio. O acolhimento entre desconhecidos que compartilham afetos é uma resposta poderosa à ausência de escuta em casa. Vinicius não apenas se assume; ele inaugura brechas de esperança para que outros, como ele, possam existir em paz, mesmo onde ainda reina o medo.”
A atitude de Vinicius reafirma que corpos LGBTQIAPN+ existem e resistem em todos os lugares – não apenas nas grandes cidades, mas também nas periferias, nos interiores, nas comunidades onde a presença queer é silenciada, mas jamais ausente. O que ainda falta é acolhimento familiar.Pertencimento. Um lar onde filhos LGBT se sintam com segurança . Por mais que o armário por vezes tenha sido refúgio, não é espaço confortável de acolhimento — bem como o silenciamento que a sociedade tenta inquietar vozes LGBT+ .