
Para Renato Janine Ribeiro, isso é especialmente crucial num momento em que tanta gente considera que o papel da religião é muito mais o de amaldiçoar o outro do que de trazer amor à Terra
Enquanto aguardamos pelo anúncio do novo papa, o professor Renato Janine Ribeiro indaga se este continuará o caminho trilhado pelo papa Francisco, que, por sua vez, seguiu os passos de João XXIII, Paulo VI e João Paulo I, “que arejaram a Igreja”, ou se retomará a via retrógrada imposta pelos sumos pontífices João Paulo II e Bento XVI, que “tiveram uma visão muito mais antiga da Igreja Católica. Isso tudo será importante para o mundo, embora o papa não tenha mais o peso que tinha um século atrás ou mesmo no tempo de Pio XII e da Segunda Guerra Mundial”. Janine lembra que a reforma da Igreja começou com o Concílio Vaticano II – convocado justamente por João XXIII -, que proclamou a infalibilidade papal e procurou tornar a Igreja Católica mais aberta ao resto do mundo e às demais religiões monoteístas e mesmo às nãos monoteístas. “O arremate é na frase importante do papa Francisco, segundo a qual um ateu, que aja bem, um ateu ético, é superior a um cristão pulha, patife, bandido, criminoso, assassino etc.”
“Finalmente chega a ideia do quê? De que a religião cada vez mais é uma ética. Isso tem dois significados: o primeiro significado, me parece que deveria ser absolutamente consensual. O grande papel das religiões, das várias religiões, é promover seres humanos bons, seres humanos que amem o próximo, seres humanos que cuidem do bem das pessoas, dos animais, do planeta. O outro ponto, que é mais controverso, é a ideia de que você possa ser bom e possa, enfim, até merecer a salvação eterna, mesmo sem acreditar nos dogmas de determinada religião. O segundo ponto me parece mais controverso, talvez haja pessoas que não o aceitem, porque ele, de certa forma, elimina o papel de intermediário da Igreja entre o fiel e Deus. E, quando falo Igreja, eu estou falando de qualquer igreja. O papel de intermediário sempre foi o padrão ouro da Igreja Católica, mas de alguma forma está presente nas igrejas protestantes, nas outras religiões também. Em suma, Francisco deixa um legado muito importante, uma mensagem de amor ao mundo, uma mensagem de uma religião que seja mais ética, e isso é especialmente crucial neste momento em que tanta gente considera que o papel da religião é muito mais o de amaldiçoar o outro do que de trazer amor à Terra.”
Ética e Política
A coluna Ética e Política, com o professor Renato Janine Ribeiro, vai ao ar quinzenalmente, quarta-feira às 8h, na Rádio USP (São Paulo 93,7; Ribeirão Preto 107,9) e também no Youtube, com produção da Rádio USP, Jornal da USP e TV USP.
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