
O tempo de execução não é suficiente para avaliar o retorno seguro ao esporte. A biomecânica alterada pode persistir, aumentando o risco de novas lesões
Por Izabel Leão
Hoje (25) o tema é o uso da tecnologia vestível na reabilitação de jogadores de futebol que passaram por reconstrução do ligamento cruzado anterior (LCA). Embora esses atletas recuperem o tempo de execução em mudanças rápidas de direção, a mecânica do movimento pode continuar alterada. Um estudo com 26 jogadores profissionais utilizou sensores inerciais e palmilhas instrumentadas para analisar cortes de 90° em campo, comparando atletas com LCA reconstruído e jogadores saudáveis.
Jogadores com LCA reconstruído recuperam o desempenho, mas como está a mecânica do movimento? Jogadores com histórico de LCA reconstruído apresentaram tempos semelhantes aos controles saudáveis, mostrando que a performance global foi restaurada; apesar do tempo semelhante, esses jogadores usaram estratégias; maior dorsiflexão do tornozelo no membro envolvido durante o passo penúltimo, sugerindo uma estratégia para reduzir a carga sobre o joelho; menor flexão do joelho no passo final, comparado ao membro não envolvido e aos controles, o que pode aumentar o risco de relesão, já que ângulos menores de flexão aumentam a tensão sobre o LCA. Esses achados indicam que o tempo de execução não é suficiente para avaliar o retorno seguro ao esporte. A biomecânica alterada pode persistir, aumentando o risco de novas lesões.
Qual o papel da tecnologia vestível nesse processo? Sensores inerciais (IMUs) e palmilhas instrumentadas permitiram monitorar os atletas diretamente no campo, preservando a naturalidade do movimento, diferentemente dos laboratórios tradicionais. A tecnologia identificou diferenças sutis de força vertical e cinemática articular entre os membros e grupos, mesmo quando a performance aparente era similar. Essa abordagem amplia o monitoramento da reabilitação, oferecendo dados objetivos sobre a mecânica real do movimento, e pode ajudar treinadores e fisioterapeutas a ajustar programas de retorno ao esporte.
O estudo concluiu que, mesmo com o retorno do desempenho, alterações na mecânica do movimento podem persistir após a reconstrução do LCA. A tecnologia vestível amplia o olhar clínico, ajudando a evitar relesões e orientando melhor o processo de retorno ao esporte.
Ciência e Esporte
A coluna Ciência e Esporte, com o professor Bruno Bedo, vai ao ar toda sexta-feira às 10h00, na Rádio USP (São Paulo 93,7 FM; Ribeirão Preto 107,9 FM) e também no Youtube, com produção do Jornal da USP e TV USP.
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