
Morreu nesta segunda-feira (15), aos 91 anos, Dom Angélico Sândalo Bernardino, bispo emérito de Blumenau, ex-bispo auxiliar de São Paulo e uma das vozes mais potentes da Igreja em defesa do povo, das periferias e dos direitos humanos.
Figura central na resistência à ditadura militar, coordenador da Pastoral Operária e aliado histórico das lutas por moradia, trabalho, creche, democracia e justiça, Dom Angélico atravessou décadas ao lado das comunidades pobres, dos movimentos sociais e da população marginalizada.
Na sua trajetória, não se calou diante da repressão, da injustiça nem da omissão. Em 1979, na missa de corpo presente do operário Santo Dias, morto pela polícia em piquete, comparou o corpo do trabalhador ao de Jesus crucificado. Em plena ditadura, dizia:
“A cruz de Cristo continua sendo fincada no corpo dos pobres.”
Na Zona Leste e na Brasilândia, era chamado de “Homem Palavra”. Criava jornais comunitários como o Grita Povo, transformando comunicação em ferramenta de organização popular. Ajudou a fundar redes de base que seguem vivas até hoje.
Mesmo após sua aposentadoria, seguia firme ao lado dos movimentos periféricos. Em tempos recentes, acolheu a população LGBTQIA+, defendeu pessoas trans com coragem e denunciou o desgoverno Bolsonaro com a mesma força de quem enfrentou os generais nos anos de chumbo.
Devoto de São Jorge e corintiano roxo, Dom Angélico viveu como pregava: caminhando com os seus.
E hoje, o povo perde uma voz — mas não o eco.