
Quando se fala em história do movimento LGBTQIAP+ no Brasil, não dá pra contar sem passar pelo nome de Yone Lindgren. Hoje com 69 anos, ela é mais do que uma militante: é uma referência viva, uma mãe de afeto para várias gerações e um símbolo da resistência construída nos tempos sombrios da ditadura e além dela.

Yone descobriu sua identidade lésbica aos 15 anos, em 1971, em pleno Brasil autoritário, e não hesitou em enfrentar o preconceito que vinha de todos os lados — inclusive da própria casa. O apoio incondicional de sua madrinha Ascendina, a quem eternizou em uma tatuagem no corpo, foi essencial para que ela seguisse firme. Desde então, Yone nunca parou.
Dos porões da ditadura às Paradas de Orgulho
Yone ajudou a construir marcos históricos do nosso movimento: esteve na fundação do Grupo Somos, da Articulação Brasileira de Lésbicas (ABL) e participou ativamente do icônico Lampião da Esquina, o jornal LGBT que fez história no Brasil. E claro, estava lá na primeira Parada do Orgulho LGBT do Brasil, em 1993, em Copacabana — um ato com apenas 30 pessoas, cercado de repressão e coragem.





Mãe de militância, mãe de coração
Além da militância, Yone sempre foi casa e colo para quem precisou. Criou quatro filhos biológicos e um de consideração, e acolheu outros tantos como “filhos e filhas de militância”, cis e trans, que a reconhecem como mãe, cuidadora e referência afetiva. A marca dessa relação aparece na frase que muitos repetem até hoje: “Sou filho da Yone na militância”.
Memória viva e alerta para o envelhecimento LGBTQIAP+

Atenta às urgências do presente, Yone é uma das vozes mais potentes na pauta do envelhecimento LGBTQIAP+. Denuncia o abandono de idosos da comunidade e cobra que o movimento valorize suas ancestrais e velhas guardas, como já fazem os movimentos negro e indígena.
Recentemente, sua trajetória foi celebrada na exposição O Mais Profundo é a Pele, no Museu da Diversidade Sexual, e será homenageada na Parada LGBTQIA+ de São Paulo de 2025, que traz o envelhecimento com dignidade como tema central.
Orgulho que se tatua na pele
Com mais de 50 tatuagens, Yone carrega marcas de resistência, amor e saudade. Entre elas, desenhos que homenageiam a madrinha, os filhos, os companheiros de luta e os muitos que partiram. E mesmo com as limitações físicas naturais da idade, não perde a disposição de estar ao lado da nova geração, celebrando suas conquistas e apontando onde ainda falta lutar.

“Demoraram para acordar para isso”, ela diz, sobre a inclusão dos mais velhos na pauta LGBTQIAP+, mas faz questão de afirmar: “Ainda bem que acordaram. E eu tô aqui pra ver.”
Yone Lindgren é, sem dúvida, Eu Tenho Orgulho. Orgulho de quem resistiu antes de nós, de quem abriu caminho, de quem fez e faz história com coragem, generosidade e ternura.
Vida longa a ela, a todas as nossas ancestrais e a quem, como ela, sabe cuidar da gente e nunca deixa de lutar.