
O Parlamento do Irã aprovou neste domingo (22) o fechamento da principal via marítima de transporte mundial de petróleo. Decisão ainda precisa ser aprovada por autoridades de segurança iranianas. ‘Fechamento do Estreito de Ormuz vai trazer transtornos para várias regiões do mundo’, afirma André Perfeito
As ações da Ásia oscilam e o petróleo sobe nesta segunda-feira (22), diante do risco de bloqueio do Estreito de Ormuz pelo Irã. No domingo, o Parlamento iraniano aprovou o fechamento da rota marítima, considerada a mais importante do mundo para o transporte da commodity.
A medida ainda precisa do aval do Conselho Supremo de Segurança Nacional e do aiatolá Khamenei. Mesmo assim, a possibilidade de bloqueio gera preocupação com a oferta global da commodity, pressionando os preços para cima e afetando os mercados.
Veja a situação dos índices no início desta segunda:
O índice Hang Seng, de Hong Kong, recuava 0,09%.
O Nikkei 225, do Japão, recuava 0,45%.
O Kospi, da Coreia do Sul, caía 0,77%.
Os índices Nifty 50 (+1,29%), da Índia, e o CSI 1000 (+0,54%), da China, avançavam.
Os futuros do S&P 500, nos EUA, recuavam 0,5%, enquanto os do Nasdaq caíam 0,6%.
Já os futuros do Eurostoxx 50, da Europa, perdiam 0,7%, e os do FTSE, do Reino Unido, caíam 0,5%.
O dólar tinha leve valorização como ativo seguro, ainda sem sinais de pânico nos mercados.
O barril de petróleo tipo Brent (referência global) subia 1,78%, cotado a US$ 76,82.
O petróleo WTI (referência nos EUA) avançava 1,86%, cotado a US$ 75,21.
Os dados mostram que os efeitos têm sido mais contidos no início desta segunda. Isso porque investidores mais otimistas acreditam que o Irã possa recuar da decisão sobre a escalada do conflito, especialmente após as ambições nucleares do país serem afetadas pelo ataque norte-americano.
Parte do mercado também acredita que uma eventual mudança de regime iraniano leve ao poder um governo menos hostil.
Rota do petróleo
O centro das atenções é o Estreito de Ormuz, responsável pelo fluxo de cerca de 20% de todo o petróleo comercializado globalmente. Além disso, a rota marítima é crucial para o transporte de gás natural liquefeito (GNL), com iguais 20% do comércio mundial.
O fechamento da rota pode afetar a oferta da commodity no mercado global, fazendo o preço do barril de petróleo disparar. Há ainda efeitos na inflação: com o petróleo mais caro, sobem os preços de energia e transportes, com reflexos nos custos de alimentos e insumos industriais.
“Ações pontuais que afastem petroleiros fazem mais sentido do que fechar completamente o Estreito de Ormuz, já que isso também interromperia as exportações de petróleo do próprio Irã”, disse à agência Reuters Vivek Dhar, analista de commodities do Commonwealth Bank da Austrália.
“Em um cenário em que o Irã opte por atrapalhar seletivamente o tráfego no estreito, vemos o Brent chegando a pelo menos US$ 100 por barril”, acrescenta.
Estreito de Ormuz
Arte/g1
Alta nos preços
Para o economista André Perfeito, os preços do petróleo podem subir, incialmente, cerca de 20% em caso de fechamento do Estreito de Ormuz, chegando a uma cotação próxima de US$ 92 o barril.
Segundo ele, os preços devem disparar ainda mais caso o conflito se estenda ao longo dos próximos dias. Nesse caso, o economista estima que o barril poderá avançar até 40%, acima de US$ 110. Seria um nível próximo ao pico de 2022, quando se intensificaram os conflitos entre Rússia e Ucrânia.
No início do conflito entre Israel e Irã, analistas do JPMorgan chegaram a afirmar que, no pior cenário, o fechamento do estreito ou uma retaliação por parte dos principais produtores de petróleo da região poderia elevar os preços para a faixa de US$ 120 a US$ 130 por barril.
“A reação vai na direção esperada [no início das negociações desta segunda]. Contudo, há a percepção que o Irã não deve escalar [o conflito] e fechar o Estreito de Ormuz. Se isso for verdade, as perdas devem ser limitadas”, diz Perfeito.
Conflito no Oriente Médio: o papel estratégico do Estreito de Ormuz
‘Artéria’ do trânsito mundial de petróleo
O Estreito de Ormuz conecta o Golfo Pérsico (ao norte) com o Golfo de Omã (ao sul), e “deságua” no Mar da Arábia. Na sua parte mais estreita, a via tem 33 km de largura, com canais de navegação de apenas 3 km em cada direção.
Cerca de 20% de todo o consumo mundial de petróleo passam pela rota. Entre o início de 2022 e maio deste ano, fluíram diariamente pelo local de 17,8 a 20,8 milhões de barris por dia de petróleo bruto, condensado ou combustível, segundo a plataforma de monitoramento marítimo Vortexa.
Membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) como Arábia Saudita, Irã, Emirados Árabes Unidos, Kuwait e Iraque exportam a maior parte do seu petróleo através do estreito, principalmente para a Ásia.
Os Emirados Árabes e a Arábia Saudita buscam rotas alternativas para não depender do estreito. O Catar, um dos maiores exportadores mundiais de gás natural liquefeito, envia quase toda sua produção através da rota marítima.
Segundo a Administração de Informação de Energia dos EUA, havia cerca de 2,6 milhões de barris por dia de capacidade ociosa nos oleodutos existentes desses países, que poderiam ser usados para contornar Ormuz (em dados de junho do ano passado).
O ataque dos EUA
Os EUA atacaram o Irã no sábado (21). O presidente Donald Trump informou que o país bombardeou três instalações nucleares. Em pronunciamento, o republicano disse que os bombardeios foram de grande precisão e que “ou haverá paz ou tragédia para o Irã”.
“Os EUA fizeram um ataque de alta precisão contra as três principais instalações nucleares do Irã: Fordow, Natanz e Isfahan. Todos guardem esses nomes, porque foi um ataque com o objetivo de destruir a capacidade nuclear iraniana. Para que deixem de ser uma ameaça nuclear e do terror”, disse.
“Ou haverá paz ou haverá tragédia para o Irã. Que cessem os ataques que vimos nos últimos oito dias. Hoje foi o dia mais difícil de todos, e talvez o mais letal. Mas se a paz não vier rápido, nós vamos continuar atacando com precisão e habilidade”, acrescentou.
A entrada dos EUA na guerra aconteceu após uma semana de combates aéreos entre Israel e Irã. Nos últimos dias, Israel já tinha anunciado uma operação para destruir alvos nucleares iranianos. O Irã retaliou com mísseis contra cidades como Tel Aviv, Haifa e Jerusalém.
G1