
Com a morte do Papa Francisco em 21 de abril de 2025, os olhares do mundo católico se voltam para o próximo conclave, que definirá quem assumirá o papado. Entre os 120 cardeais com direito a voto, sete são brasileiros. Mas além de representar o maior país católico do mundo em números absolutos, que papel esses cardeais têm quando o assunto são os direitos da população LGBTQIA+?
A relação da Igreja com pessoas LGBTQIA+ tem sido marcada por tensões e avanços tímidos. O próprio Francisco surpreendeu ao abençoar casais do mesmo sexo, mas sem alterar a doutrina tradicional. No Brasil, os cardeais mostram posturas variadas – que vão do acolhimento pastoral ao discurso conservador sobre “ideologia de gênero”.
Dom Jaime Spengler: uma voz progressista

Atual presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e arcebispo de Porto Alegre, Dom Jaime Spengler é uma das poucas vozes no alto clero brasileiro que já se manifestou a favor da união civil entre pessoas do mesmo sexo. Embora mantenha a posição da Igreja contra o casamento religioso para casais LGBTQIA+, reconheceu a legitimidade do vínculo civil e criticou o moralismo que afasta fiéis da Igreja. Suas declarações foram vistas como um sopro de diálogo num ambiente frequentemente hostil à diversidade sexual e de gênero.
Dom Sérgio da Rocha: acolhimento pastoral

Arcebispo de Salvador e Primaz do Brasil, Dom Sérgio da Rocha celebrou, em 2023, uma missa em memória das vítimas da LGBTfobia, com a presença de ativistas e militantes da causa. Na ocasião, ele destacou o caráter pastoral do gesto, afastando qualquer conotação ideológica. Ainda assim, o ato gerou debates dentro da própria Igreja, mostrando os limites – e a importância – de gestos simbólicos de acolhida.
Dom Odilo Scherer: o peso do centro

Arcebispo de São Paulo e um dos cardeais mais influentes do país, Dom Odilo Pedro Scherer já afirmou que a Igreja “não apoia, incentiva ou justifica a violência contra homossexuais” e defendeu o cuidado pastoral a pessoas soropositivas, independentemente de sua orientação sexual. Ainda assim, não é conhecido por abrir debates mais profundos sobre inclusão e direitos da população LGBTQIA+, mantendo-se dentro da linha oficial do Vaticano.
Dom Orani Tempesta: resistência à “ideologia de gênero”

Dom Orani, arcebispo do Rio de Janeiro, se destacou por sua crítica ao que chamou de “ideologia de gênero”, especialmente em documentos educacionais como a BNCC. Sua postura é próxima da ala conservadora da Igreja, que vê nas discussões sobre identidade de gênero e sexualidade uma ameaça à doutrina tradicional.
Silêncio institucional: os demais cardeais
Dom João Braz de Aviz (ex-prefeito do Dicastério para os Religiosos), Dom Leonardo Steiner (arcebispo de Manaus) e Dom Paulo Cezar Costa (arcebispo de Brasília) não possuem posicionamentos públicos registrados sobre questões LGBTQIA+. O silêncio, neste caso, fala muito: em tempos de avanços e retrocessos, não se posicionar também é uma escolha política e religiosa.
Representatividade e expectativa
Enquanto a Igreja Católica vive um momento de transição e incertezas, a expectativa sobre o perfil do novo papa reacende discussões sobre inclusão. Os cardeais brasileiros chegam ao conclave com um peso demográfico significativo, mas ainda tímidos diante dos desafios de representar, de fato, a diversidade presente em suas dioceses.
Em um mundo em que a fé dialoga cada vez mais com os direitos humanos, os rumos da Igreja dependerão, em grande parte, da coragem – ou da omissão – de seus líderes em temas tão urgentes quanto a dignidade das pessoas LGBTQIA+.