Qual é o preço da sua vida? Algumas horas fora da realidade? Uma sensação passageira que, muitas vezes, cobra caro demais depois? O recente episódio ocorrido em uma festa LGBT muito conhecida trouxe de volta uma discussão urgente: o uso abusivo de drogas nas festas, especialmente na cena eletrônica. O caso, que gerou comoção e inúmeros comentários nas redes, expõe um problema que ultrapassa os limites de um evento — e toca diretamente no comportamento coletivo, nas relações de prazer e no limite entre diversão e autodestruição.
Há quem tente apontar culpados. A festa, a produção, o público. Mas a verdade é mais complexa. O uso de entorpecentes deixou de ser algo isolado para se tornar uma prática naturalizada em muitos espaços de sociabilidade. Em diversas festas eletrônicas, a cena se repete: longas madrugadas que viram dias, afters que não acabam, corpos exaustos, consciências distorcidas. E, no meio disso, a ideia perigosa de que “tudo bem” — de que faz parte, de que “é assim mesmo”.
Enquanto isso, nas redes sociais, perfis com centenas de milhares de seguidores — muitos deles formadores de opinião dentro desse circuito — transformam o consumo em piada, em estética, em identidade. Memes, frases, posts e vídeos que reforçam o uso de drogas como algo divertido e aceitável. Uma normalização que preocupa e que, nas palavras de quem vive e observa esse cenário, precisa ser discutida com mais seriedade.
Mas a discussão não se limita ao público. Há também um olhar crítico sobre as próprias festas. Em eventos de grande porte, nacionais e internacionais, o mínimo esperado é uma estrutura de segurança eficaz. No caso recente, há relatos de que a vítima teve tempo para subir a uma área restrita, permanecer ali e, mesmo assim, não foi abordada por nenhum funcionário. Um descuido que não passa despercebido e levanta dúvidas sobre a responsabilidade das produções em zelar pelo bem-estar dos frequentadores.
Mais de 24 horas após o ocorrido, o silêncio da organização também causa desconforto. Em tempos de imediatismo digital, a ausência de uma resposta oficial soa como negligência — e aprofunda a sensação de abandono entre o público.
O episódio deixa, no fim, uma pergunta que ecoa: é preciso se drogar para se divertir? E se a resposta for sim, por que tanto? A cena eletrônica, tão rica culturalmente e artisticamente, corre o risco de ser engolida por uma lógica de excessos que transforma a celebração em tragédia.
Fica o alerta: é hora de olhar com mais cuidado para os corpos, para os limites e para o que tem sido romantizado nas pistas. Porque a liberdade que tanto se busca nas festas não pode custar a própria vida.
Onde buscar ajuda
Se você ou alguém que você conhece está passando por um momento difícil, lidando com o uso de álcool, outras drogas ou pensamentos suicidas, procure ajuda. Não precisa enfrentar sozinho.
CVV – Centro de Valorização da Vida
188 (24h, ligação gratuita)
cvv.org.br
Atendimento anônimo e sigiloso por telefone, chat ou e-mail.
VivaVoz – Ministério da Saúde / Fiocruz
132 (segunda a sexta, das 8h às 22h)
vivavoz.fiocruz.br
Informações e orientação sobre álcool e outras drogas.
CAPS AD – Centros de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas
Gratuitos pelo SUS, com atendimento psicológico e médico.
Procure o CAPS AD mais próximo ou uma UBS da sua cidade.
Emergência
192 (SAMU)
190 (Polícia Militar)
193 (Bombeiros)
Para pessoas LGBTQIA+
mapadasaude.lgbt – lista de serviços seguros e acolhedores.
casaum.org – apoio social e psicológico gratuito (SP).
Cuidar da mente também é um ato de coragem.

Matéria maravilhosa que vem colocar uma questão: Quem é o responsável pelo uso de droga? Eu penso que o usuário, porém, em eventos públicos os responsáveis pela organização e andamento do evento, são responsáveis pelo socorro as vítimas de si mesmos, uma pena que alguns precisem de drogas para se divertir, fica aqui uma pergunta: Qual deles é você na balada da sua vida?