
Enquanto diversas cidades do Alto Tietê seguem sem previsão de realizar conferências voltadas à população LGBTQIA+, quatro municípios da região decidiram assumir o protagonismo e organizar, em 2025, encontros formais para discutir políticas públicas e garantir direitos à diversidade: Mogi das Cruzes, Guarulhos, Itaquaquecetuba e Arujá.
A movimentação representa um marco na história recente da região, que pela primeira vez vê um esforço coordenado e institucionalizado em torno das pautas LGBTQIA+, muitas vezes ignoradas nos espaços de poder e decisão.
Mogi das Cruzes: pioneirismo e articulação regional
Mogi das Cruzes foi a primeira cidade a promover uma conferência LGBTQIA+ na região. Ainda em 2024, o município realizou três pré-conferências descentralizadas em diferentes bairros e distritos, culminando na etapa principal realizada no dia 7 de dezembro, no espaço Pipa Hub. A experiência pioneira deu visibilidade às demandas da população LGBTQIA+ local e abriu espaço para uma articulação regional mais ampla.
Itaquaquecetuba: processo começou em janeiro
Em Itaquaquecetuba, a 1ª Conferência Municipal dos Direitos das Pessoas LGBTQIA+ está marcada para o dia 25 de abril, no Projovem (Avenida Emancipação, 37 – Centro). O processo teve início em 17 de janeiro, com a realização da primeira pré-conferência municipal, reunindo ativistas, representantes do poder público e moradores para debater propostas e levantar demandas. O lema do encontro é “A luta por direitos é a luta por uma sociedade mais justa e igualitária”.
Arujá: quatro pré-conferências e participação ativa
Arujá também promove sua primeira conferência LGBTQIA+ no dia 26 de abril, a partir das 8h, na Associação Cultural Kaikan (Avenida Adília Barbosa Neves, 887 – Jordanópolis). O município se destacou por realizar quatro pré-conferências preparatórias, nos dias 27 de fevereiro, 9, 10 e 11 de abril, reunindo diversos segmentos da sociedade civil, ativistas e representantes do poder público. A iniciativa reforça o compromisso da cidade com a construção de políticas públicas para a população LGBTQIA+.
Guarulhos: referência na continuidade das ações
Guarulhos, uma das maiores cidades do Estado, realizará sua 3ª Conferência Municipal LGBTQIA+ no dia 17 de maio, data que marca o Dia Internacional de Luta contra a LGBTfobia. O evento acontece na Universidade São Judas – Unidade Guarulhos (Rua do Rosário, 476 – Vila Camargos), com organização da OAB Guarulhos, Prefeitura e Câmara Municipal. A cidade consolida-se como referência regional ao manter a continuidade de políticas públicas voltadas à diversidade.
Desigualdade regional ainda preocupa
Apesar dos avanços, a maioria dos municípios do Alto Tietê ainda não anunciou nenhuma iniciativa em 2025. Cidades como Suzano, Poá, Ferraz de Vasconcelos, Santa Isabel, Biritiba Mirim, Guararema, Igaratá, Mairiporã, Salesópolis e Santa Branca — conforme a lista do CONDEMAT (Consórcio de Desenvolvimento dos Municípios do Alto Tietê) — seguem sem previsão para a realização de conferências LGBTQIA+.
Ferraz de Vasconcelos chegou a discutir a pauta. O ativista Everton Moraes, liderança da comunidade LGBTQIAPN+ no município, apresentou em 2024, durante reunião do Conselho Municipal de Cultura, a proposta de realização da 1ª Conferência Municipal LGBTI+. O projeto foi aprovado pelo conselho e recebeu parecer favorável da Secretaria de Cultura e do setor jurídico da prefeitura. No entanto, segundo o ativista, a proposta foi vetada pela prefeita, que desde então tem evitado comentar publicamente o assunto.
“É frustrante ver a vontade da sociedade civil sendo ignorada. Tivemos apoio técnico e jurídico, mas ainda assim a proposta foi barrada no gabinete. Enquanto outras cidades avançam, Ferraz estagna”, afirma Everton.
Construção regional e projeção nacional
Enquanto parte do Alto Tietê silencia, Mogi, Guarulhos, Itaquaquecetuba e Arujá apontam caminhos possíveis e demonstram que a construção de políticas públicas para a população LGBTQIA+ é viável quando há vontade política. A expectativa é que essas ações locais reverberem em níveis estadual e nacional, contribuindo com a consolidação da Política Nacional dos Direitos das Pessoas LGBTQIA+ atualmente em construção.