
O trabalho colaborativo também aparece em “Educação midiática e cinema nos cenários da cultura digital: literacias dinâmicas, terceiro espaço e designer de significados”, por Monica Fantim. Mais do que incentivar a articulação entre cinema e educação, ela propõe que o senso de crítica e de reflexão sobre o audiovisual seja aplicado, também, às ferramentas tecnológicas, como a inteligência artificial, e ao uso não alienado da tecnologia, algo que deve ser um objetivo das escolas.
Como alternativa para essas questões, Rógerio de Almeida apresenta, em “Metacinema e educação do olhar: entre os imaginários da ilusão e da disrupção”, o uso do que ele chama de “metacinema” como recurso pedagógico. Segundo ele, “os filmes demandam pedagogias do olhar que ultrapassem a noção de que o cinema representa a realidade, pois a imagem tem uma dupla condição: é simultaneamente imagem em si e também imagem de algo”. Dessa forma, ele argumenta que a experiência estética do cinema proporciona, inclusive, que se amplie o olhar crítico para a própria vida em si. Para isso, ele propõe a divisão das obras metacinematográficas entre ilusórias, disruptivas e híbridas, nomes dados de acordo com o grau de adensamento do olhar proporcionado por elas.
A seguir, Celso Luiz Prudente analisa a representação da figura negra no cinema com o passar dos anos. O artigo “Do surgimento do cinema negro à construção da Mostra Internacional do Cinema Negro” tem como ponto de partida a diferenciação entre duas concepções, a do “negro no cinema”, que figura como um objeto, “sem domínio sobre sua própria imagem”, e a da “étnico-cinematografia afrodescendente”, que, por meio do cinema negro, rompe com a primeira ideia e permite a conquista do domínio de sua própria imagem pelo afrodescendente. No Brasil, esse processo, que passa pela humanização de suas representações e pela superação de estereótipos, está, para o autor, ligado ao cinema de Glauber Rocha (1939-1981): “O Cinema Novo de Glauber Rocha elegeu o negro e sua cultura como referencial estético”, o que vinculava-se, inclusive, ao uso das cores preto e branco na fotografia, “representando binariamente o conflito social: o negro e sua cultura simbolizavam o proletariado e o desdobramento da pobreza, enquanto o branco representava a burguesia e a relação de poder”, em uma sociedade onde “raça e classe se entrelaçam”.