
De acordo com Eduardo Rocha, a maioria das pessoas está apta a fazer esse gesto, que tem o apoio da maioria das crenças e religiões e é capaz de recuperar a visão de quem está na fila de espera por um transplante
O Brasil está entre os três maiores transplantadores de córnea do mundo, mas um desafio a ser superado é a fila de espera, que é grande, como lembra nesta coluna o professor Eduardo Rocha. A espera por esse tipo de transplante, uma vez constatado o problema ocular e o tratamento cirúrgico a ser indicado por um especialista, é, em média, de seis meses, conforme dados do próprio governo. “Como as filas, as demandas e as equipes são regionais, esse tempo pode variar, dependendo de onde vive cada paciente. O Brasil é um grande transplantador, em números e em alta tecnologia, e possui um bom sistema de captação de córneas, graças ao SUS. Mas podemos melhorar o desempenho e assim reduzir o tamanho da fila e o tempo de espera. A princípio, todos nós podemos doar, para isso basta manifestar essa vontade aos nossos familiares. Depois do óbito, esses familiares informarão sobre a vontade de doar à equipe que fará a preparação para o sepultamento ou a cerimônia de despedida. A partir daí o tempo passa a contar para que esse gesto efetivamente ajude a uma pessoa cega na fila de espera”, esclarece o colunista.
A maioria das pessoas está apta a doar a córnea, um ato aceito por grande parte das crenças e religiões. Não há recusa em receber córneas saudáveis, mas há, depois do óbito, um criterioso processo de avaliação para indicar que a doação de córneas, assim como outras doações de tecidos e órgãos entre pessoas, seja segura e viável para a próxima pessoa que aguarda na fila. “Se o tempo de decisão da família, depois do óbito, ultrapassar 12 horas, se o doador tiver menos de 2 anos de vida ou mais de 80 anos, a tecnologia atual não indica o transplante. Da mesma forma, a morte por uma causa desconhecida, ou se a pessoa doadora tiver câncer no olho ou doenças infecciosas cuja cura ainda não é conhecida, essa córnea não será transplantada.” Para maior segurança, o protocolo exige exame rigoroso e histórico médico de cada doador. A conversa com os familiares também é importante. “Exames de sangue são colhidos no ato da doação, a avaliação médica da córnea a ser transplantada é feita, os exames laboratoriais são analisados e o tecido é então preservado, à espera do seu receptor”, acrescenta Rocha, sem esquecer de mencionar que tudo atende a uma legislação que segue normas internacionais e a estudos científicos, e é revista e atualizada periodicamente. “Como podemos observar, há pouco motivo para não ser doadora ou doador de córnea. Muitos dos brasileiros já sabem e concordam em fazer esse último gesto de ajuda ao próximo. Essa informação tem o objetivo de trazer mais gente para doar as córneas, porque do outro lado há muita gente esperando.”
Fique de Olho
A coluna Fique de Olho, com o professor Eduardo Rocha, vai ao ar quinzenalmente, quarta-feira às 8h30, na Rádio USP (São Paulo 93,7; Ribeirão Preto 107,9) e também no Youtube, com produção da Rádio USP, Jornal da USP e TV USP.
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