
Vítima denunciou quatro estupros e violência psicológica, mas médico foi condenado só por um abuso. Em sua defesa, ele disse que acusações são ‘revanchismo’ da vítima após corte de regalias. Raphael Derossi Ribeiro da Silva foi condenado por estupro de ex
Divulgação/Arquivo Pessoal
O pediatra Raphael Derossi Ribeiro da Silva foi condenado, nesta quinta-feira (20), pela Justiça do Rio, a 7 anos de prisão pelo estupro da ex-companheira. Ele poderá cumprir a pena em regime semiaberto.
O médico chegou a ser preso em 2023, mas foi solto e respondeu ao processo em liberdade. Ele foi acusado pela ex de violência psicológica e abuso em quatro ocasiões diferentes – incluindo no primeiro encontro.
Raphael foi condenado por um estupro, que teria sido o último, e absolvido das demais acusações por falta de provas.
Em sua defesa, o médico disse que “as imputações feitas são revanchismo da vítima após ter cortado o celular e algumas regalias”. O g1 tenta contato com o advogado de Raphael.
De acordo com o Ministério Público, as denúncias foram feitas meses após o término do casal, que se separou no fim de 2020. A vítima alegava que sofria violência psicológica constantemente, e que Raphael controlava seu peso, o uso de redes sociais e o contato com familiares e amigos.
Relato de abuso no 1º encontro
A mulher afirmou que, no primeiro encontro, em 2018, os dois saíram de um bar e foram para a casa dele. Lá, segundo ela, foi forçada a manter relações sexuais com o médico.
Em mensagens no dia seguinte, ele teria se desculpado e dito que não tinha percebido que ela não queria. Ele foi absolvido dessa acusação por falta de provas.
De 2018 a 2019, o relacionamento seguiu, com a vítima se mudando para a casa do médico e passando a ser controlada. A mulher contou que, na época, estava na faculdade e tinha que enviar fotos de onde estava e com quem estava, já que Raphael era controlador e ciumento.
Em uma ocasião, o homem teria dito que a vítima “tinha que lamber o chão que ele pisa”, em relação ao controle financeiro que ele exercia.
O episódio que fundamentou o primeiro pedido de prisão dele aconteceu durante uma viagem à Grécia, no final de 2018. Após uma briga, a vítima contou que ele ministrou uma dose alta de um ansiolítico e que ela apagou. Ela suspeitou do abuso sexual ao constatar um sangramento íntimo.
Em seu relato, ela diz que acordou várias vezes, mas não conseguia se mexer por conta do calmante.
A viagem ocorreu com outros casais, que testemunharam em juízo e afirmaram não ter percebido nenhuma mudança no comportamento da vítima, e que o relacionamento do casal era normal. Raphael também foi absolvido dessa acusação.
“Não se trata de considerar que a vítima tenha faltado com a verdade, até porque a reação emocional aos eventos é de caráter individual e pode ser diferente de pessoa para pessoa. No entanto, as provas juntadas aos autos foram aptas a abalar a presunção de veracidade de suas palavras, não sendo possível, portanto, um decreto condenatório nestes termos”, disse o juiz na decisão que absolveu o médico dessa acusação.
Já em julho de 2019, Raphael e a vítima foram para Punta Cana para uma conferência médica. Ela relatou que sofreu abuso quando estava dormindo e, na tentativa de se desvencilhar, foi agredida com dois socos, que teriam machucado sua orelha. A situação teria acontecido após uma crise de ciúmes em um cassino. O pediatra também foi absolvido dessa acusação.
“Considerando a conduta imputada, que envolveu socos na cabeça, bem como a informação de que [nome da vítima] teria se ferido na orelha, era esperado que outras pessoas pudessem visualizar alguma marca ou lesão, o que não aconteceu”, citou o magistrado.
O médico Raphael Derossi Ribeiro da Silva foi preso
Reprodução
A única acusação que resultou em condenação aconteceu em outubro de 2020. A vítima apresentou fotos em que aparecia com hematomas no rosto e na boca. Uma amiga também testemunhou a seu favor contando que a acolheu após o relato.
A vítima contou que foi agredida com chutes e socos e acabou desmaiando. Ela teria recobrado a consciência depois de ser colocada debaixo do chuveiro. Segundo ela, nesse momento, mesmo machucada, sofreu abuso.
A mulher disse em juízo que seus familiares e amigos só souberam das agressões físicas e sexuais depois do término da relação, e que foi incentivada por eles a denunciar.
Em 2023, Raphael já contava com uma vasta ficha criminal, com 14 registros de ocorrência, todos feitos por mulheres: cinco por estupro, cinco por lesão corporal, dois por ameaça e dois por injúria.
Assista à reportagem da época da denúncia:
Audiência de custódia do pediatra preso por estupro e agressão contra companheira será nesta segunda (27)
Por G1