
Na prática, a decisão implica em monitoramento mais rigoroso e possível redução do financiamento federal, mas alimenta também o debate sobre a proibição do partido. AfD é classificado como extrema direita na Alemanha
Agora é oficial. Segundo colocado nas eleições de fevereiro, o partido de extrema direita Alternativa para a Alemanha recebeu a classificação de extremista pela agência de Inteligência interna do país. Até então, a legenda era cotada como “sob suspeita” – apenas algumas filiais, como a sua ala jovem, recebiam o rótulo de extremista.
Na prática, a decisão implica em mais rigor no monitoramento do partido e possível redução do financiamento federal. Mas esta classificação alimenta também o debate sobre a proibição do partido, que detém 152 das 630 cadeiras do Parlamento e obteve 20,8% dos votos.
Banir o AfD seria um processo complexo, uma vez que, de acordo com a última pesquisa publicada no início de abril pelo jornal “Bild”, o partido empatou em popularidade com a aliança de centro-direita CDU/CDS, liderada pelo chanceler eleito Friedrich Merz, que deve assumir o governo na próxima semana.
O partido foi incensado pelo vice-presidente dos Estados Unidos, J.D. Vance, e pelo bilionário Elon Musk, que fizeram campanha aberta pela candidata Alice Weidel.
Quando esteve em Munique, dias antes das eleições, o vice de Donald Trump optou por reunir-se com a candidata ultranacionalista, e não com o chanceler Olaf Scholz.
Alice Weidel
JENS SCHLUETER / AFP
Num relatório de mais de mil páginas, o Departamento Federal para a Proteção da Constituição (BfV) justifica, pela primeira vez na História moderna da Alemanha, a categoria de “organização extremista de direita” para um partido com representação no Parlamento.
“A concepção de pessoas baseada em etnia e ancestralidade que predomina dentro do partido não é compatível com a ordem democrática livre”, diz a agência de inteligência sobre o AfD.
Em outras palavras, no entender da ministra do Interior, Nancy Faeser, o partido trata cidadãos com raízes estrangeiras como alemães de segunda classe.
“A atitude étnica deles se reflete em declarações racistas, especialmente contra imigrantes e muçulmanos”, completa.
Criado há 12 anos por dissidentes descontentes do CDU, o partido ultranacionalista teve rápida ascensão, adotando uma posição linha-dura contra a imigração e o islamismo, como resposta à acolhida de refugiados pela então chanceler Angela Merkel.
Por meio da disseminação de desinformação, o AfD conseguiu romper a barreira contra a extrema direita e ingressou no Parlamento alemão e vem aumentando a representação. Passou a usar, de forma velada, símbolos proibidos da Alemanha nazista e normalizou conceitos claramente xenófobos como o nativismo e a repatriação em larga escala de imigrantes.
Com a ratificação do rótulo de organização extremista, o partido poderá ser vigiado de perto pelos órgãos de Inteligência.
Daí a ser banido, há obstáculos concretos. A vitimização é um deles. O temor dos adversários é que a perseguição ao AfD acabe resultando em mais apoio político.
LEIA TAMBÉM:
Turbinado pelo governo Trump e rejeitado por forças políticas tradicionais, partido de extrema direita ganha impulso na Alemanha
3 razões por que direita radical alcançou melhor resultado eleitoral na Alemanha desde a 2ª Guerra
G1