
Raquel Rolnik admite que a favela encontra-se numa situação precária, mas o problema é que os moradores estão sendo pressionados a sair rapidamente do local sem ter necessariamente para onde ir
A Favela do Moinho, que, localizada no centro da cidade, abriga mais de mil famílias, quase 40 espaços comerciais e sete igrejas, está sendo removida. A professora Raquel Rolnik admite que, mesmo com tudo isso, ela está numa situação bastante precária ao estar situada entre duas linhas de trem, além de um viaduto, “ou seja, é muito complicado tentar defender que ela permaneça ali, que seja regularizada, embora exista um processo na Justiça rolando” e que no zoneamento da cidade ela seja demarcada como uma zona especial. A remoção, contudo, atende aos interesses dos próprios moradores, que saem do local com a intenção de receberem um atendimento habitacional. Mas é aí que as coisas se tornam complexas, e a colunista explica o porquê. Tudo se baseia no fato de o terreno onde se encontra instalada a favela pertencer à União, que colocou para o governo do Estado, por meio da Secretaria do Patrimônio da União, uma série de condições para lhe passar o espaço, inclusive o atendimento habitacional das famílias que lá residem.
No entanto, de acordo com a professora, o que realmente está acontecendo é uma pressão, por parte do governo do Estado, no sentido de as famílias saírem do local o quanto antes, “sem necessariamente garantir que essas famílias vão ter um atendimento adequado do ponto de vista habitacional”, o que, para ela, tem tudo a ver com o desejo do governo de lançar a PPP do Centro Administrativo ainda em junho. “Nós estamos falando de famílias que não têm nenhuma capacidade de pagar um crédito habitacional, e o que está sendo ofertado para as famílias é um crédito habitacional.” Além disso, o governo do Estado alega que as alternativas de moradia são na área central, o que não corresponde exatamente à verdade. Isso é fundamental para famílias que tiram o seu sustento daquela região da cidade. “Incursões da polícia em nome da existência do tráfico – existe tráfico ali, mas nem todas as pessoas que estão ali são envolvidas no tráfico […] o fato de existirem traficantes não transforma todo esse local em tráfico. E coisas como a da Prefeitura, na semana passada, que simplesmente pegou todos os carros estacionados, que são carros dos moradores, e notificou que tinham que ser retirados imediatamente, como se fossem carros abandonados. São vários mecanismos de pressão numa guerra, e a pergunta é: uma guerra contra quem mesmo?”
Cidade para Todos
A coluna Cidade para Todos, com a professora Raquel Rolnik, vai ao ar quinzenalmente quinta-feira às 8h30, na Rádio USP (São Paulo 93,7; Ribeirão Preto 107,9) e também no Youtube, com produção da Rádio USP, Jornal da USP e TV USP.
.