A Voz Silenciada: O Impacto da Gestão Arbitrária no Atendimento à População LGBTI+ em SP

Por anos, Luiz Fernando dedicou sua vida ao atendimento e à luta pelos direitos da população LGBTI+ no Centro de Cidadania LGBTI Laura Vermont. Foram oito anos de trabalho incansável, oferecendo suporte a pessoas em situação de vulnerabilidade, promovendo a sensibilização da rede de serviços e construindo pontes para que a comunidade tivesse mais acesso a educação, capacitação profissional e acolhimento.

No entanto, essa trajetória de dedicação foi abruptamente interrompida. O motivo? Uma reclamação sobre o tom de voz utilizado durante um atendimento. Segundo Luiz, uma atendida alegou que sua fala soou ríspida, o que gerou desconforto. Essa única queixa foi o estopim para que a coordenação municipal LGBTI solicitasse, ou melhor, ordenasse a coordenação do Centro, sem oferecer espaço para esclarecimentos, pressionasse pelo seu desligamento.

Além disso, um áudio privado de Luiz Fernando, onde ele expressava de maneira informal sua opinião sobre a postura da atendida em uma sensibilização realizada para a Guarda Civil Municipal, acabou sendo compartilhado indevidamente com a própria pessoa. Esse episódio serviu de justificativa para sua exoneração, sem que houvesse um diálogo justo ou um processo transparente de apuração dos fatos.

“O que me causa estranheza e indignação é o fato de um episódio pessoal ser utilizado como base para exigir meu desligamento imediato, sem me oferecer a oportunidade de apresentar minha versão dos fatos”, desabafa Luiz Fernando.

O impacto dessa decisão não se restringe apenas a ele. Sua saída compromete a qualidade do serviço prestado pelo Centro, sobrecarregando a equipe e afetando diretamente os atendidos que tinham nele um profissional qualificado e acessível. A decisão também levanta um alerta preocupante sobre a gestão da instituição, que deveria priorizar o bem-estar da população LGBTI+ em vez de agir com arbitrariedade e interesses pessoais.

Luiz Fernando reforça a importância de uma coordenação comprometida com a causa e não com agendas individuais. “São Paulo merece uma gestão que respeite seus profissionais e atue com transparência e comprometimento real com a população LGBTIAPN+.”

A sua história é um lembrete da necessidade de proteger e valorizar aqueles que dedicam suas vidas ao serviço social, garantindo que suas vozes não sejam silenciadas por decisões políticas ou pessoais.


Texto na Íntegra:

Sou Luiz Fernando e atuei por 8 anos no Centro de Cidadania LGBTI Laura Vermont. Durante esse tempo, meu trabalho foi reconhecido por sua excelência, especialmente nas áreas de sensibilização da rede de serviços sobre questões de gênero e sexualidade, na busca por parcerias para a instituição, e no acompanhamento individualizado e em grupos. Também realizei encaminhamentos para escolas, cursos técnicos e de graduação.

Minha trajetória profissional sempre foi marcada por dedicação ao bem-estar da comunidade LGBTI+ e ao apoio a pessoas em processo de autodescoberta e afirmação de identidade. No entanto, essa jornada foi interrompida de forma inesperada.

Uma atendida fez uma reclamação formal à coordenadora sobre o tom de voz utilizado por mim durante um atendimento. Ela alegou que minha fala parecia ríspida, o que a fez se sentir desconfortável e menos acolhida. Aproveitando essa situação, a gestora pressionou o gestor responsável pelo Centro a me demitir, citando um áudio que enviei em um grupo privado. No áudio, expus de maneira coloquial minha opinião sobre a postura da atendida durante uma sensibilização realizada na Guarda Civil Municipal (GCM), e esse áudio acabou sendo enviado para a própria atendida.

Desde então, eu buscava uma oportunidade para me desligar da instituição. No entanto, o que me causa estranheza e indignação é o fato de um episódio pessoal ser utilizado como base para exigir meu desligamento imediato, sem me oferecer a oportunidade de apresentar minha versão dos fatos em relação à reclamação da atendida.

A ausência do meu trabalho causará sobrecarga no serviço, sem contar o vínculo construído com as turmas das quais sou o técnico responsável.

A qualidade do serviço prestado ficará comprometida devido aos desmandos da coordenação, e eu ficarei desempregado, sem uma fonte de renda, simplesmente por discordar da postura de uma gestora pública que parece personalizar o cargo e tratá-lo como uma extensão de sua própria casa.

São Paulo merece uma coordenação comprometida com o bem-estar da população LGBTIAPN+ e que não trate as pessoas de forma desrespeitosa quando não atendem às suas expectativas.

Por Maria Fernanda

Deixe comentário

Seu endereço de e-mail não será publicado. Os campos necessários são marcados com *.