Crises políticas na importação de gás natural podem impulsionar o Brasil rumo à transição energética – Jornal da USP

Para Fernando de Lima Caneppele, o País deve investir na diversificação de sua matriz energética para ser cada vez menos dependente de outros países

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chapéu energia sustentável

Imagem de um gasoduto que abastece o Brasil de gás vindo da Bolívia
A interrupção das exportações representa um desafio para a economia boliviana, que depende das receitas provenientes do gás natural, e para o Brasil – Foto: Arquivo Centro Brasileiro de Infraestrutura
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No ano de 2023, o Brasil foi pego de surpresa com a notícia de que o governo boliviano cessaria as exportações de gás natural devido à escassez das reservas. Para alívio dos países importadores, no ano seguinte a Bolívia anunciou a descoberta de um megacampo de gás natural com mais de 48 bilhões de metros quadrados. Apesar da continuação das relações comerciais entre os países, o evento serviu de alerta para que o Brasil considerasse a busca por outras formas de energia limpa.

Conforme Fernando de Lima Caneppele, docente da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos (FZEA) da USP, atualmente o gás natural boliviano é transportado para o Brasil através do Gasoduto Brasil-Bolívia (GasBol), com capacidade para 30 milhões de metros cúbicos por dia. Nos últimos anos, esse volume correspondeu a cerca de 30% do consumo de gás natural brasileiro. No entanto, ele explica que a relação energética entre os dois países tem sido marcada por instabilidade, com flutuações nas exportações devido a questões políticas e, agora, pelos anúncios de exaustão das reservas bolivianas.

Homem branco, cabelos escuros, jovem, de óculos
Fernando Caneppele – Foto: Arquivo Pessoal

Novas alternativas

De acordo com o professor, a interrupção das exportações representa um desafio para a economia boliviana, que depende das receitas provenientes do gás natural, e para o Brasil, que precisará diversificar rapidamente sua matriz energética para suprir a demanda. Essa situação, segundo ele, obriga o Brasil a buscar alternativas mais sustentáveis e a reduzir a dependência de importações.

A notícia, no entanto, não é motivo apenas de preocupação. Caneppele conta que o cenário também cria uma oportunidade para o Brasil acelerar sua transição energética e investir mais em fontes de energia renováveis. Atualmente, o País já possui uma matriz energética diversificada, com forte participação de fontes como hidrelétricas, eólicas, solares e biomassa.

Um exemplo de sucesso apontado pelo professor é a agroindústria da cana-de-açúcar, que não apenas produz etanol, mas também gera eletricidade a partir do bagaço de cana. “Esse é um setor com grande potencial para expansão e que pode atender às crescentes demandas de energia sustentável”, destaca.

Energia limpa

Além das fontes renováveis, o Brasil também tem investido na produção de gás natural offshore, especialmente em áreas do pré-sal, que possuem reservas significativas. Segundo Caneppele, essa produção pode se tornar uma alternativa viável para compensar a perda do gás boliviano a médio prazo. Há ainda a possibilidade de explorar o potencial do gás de xisto no País, o que poderia aumentar a autossuficiência energética brasileira.

Embora existam essas opções, o docente ressalta que a crise boliviana também serve como alerta para a necessidade de políticas públicas eficazes. Para ele, a instabilidade nas relações comerciais com a Bolívia pode ser o catalisador que o Brasil precisa para intensificar a pesquisa e desenvolvimento de novas tecnologias para acelerar a transição energética eficaz e equitativa.

 “É essencial fomentar a pesquisa e o desenvolvimento de tecnologias limpas e incentivar investimentos em energia renovável. O papel do governo será decisivo para transformar esse momento de crise em uma oportunidade de inovação e sustentabilidade. O País tem condições de se destacar globalmente no desenvolvimento de tecnologias e na liderança de um modelo de energia mais sustentável, desde que ciência, tecnologia e visão estratégica sejam alinhadas”, diz.

*Sob supervisão de Cinderela Caldeira e Paulo Capuzzo


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Por jornal.usp

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