O Brasil se despede, nesta terça-feira, 25 de junho de 2025, de uma de suas mais combativas e generosas vozes: Jacqueline Brasil, travesti, ativista, educadora e referência na luta pelos direitos das pessoas trans e travestis no Rio Grande do Norte e no país. Jacqueline faleceu hoje, deixando um legado profundo de coragem, afeto e transformação social.

Fundadora e presidenta da ATREVIDA (Associação das Travestis, Homens e Mulheres Transexuais do RN), criada em 2008, Jacqueline atuou por mais de duas décadas contra a transfobia e pela emancipação das identidades trans no estado. Mas seu trabalho foi além: ela ocupou posições na direção da ANTRA, na vice-presidência da RNTTHP e na secretaria nacional da REBRACA, mostrando que a militância local também molda e fortalece os rumos nacionais.
Foi dela a liderança em pautas históricas no RN, como a implementação do nome social em documentos oficiais, campanhas de empregabilidade para pessoas trans e a criação da Casa Brasil, espaço de acolhimento para travestis e transexuais em situação de rua.

Reconhecida pela Câmara Municipal de Natal com o título de Cidadã Natalense em 2016 — a primeira travesti a receber essa honraria — Jacqueline também conquistou o Prêmio Dr. Eduardo Barbosa, na Bahia, pelo trabalho na saúde pública e inclusão de pessoas trans.
Sua trajetória nasce nos becos e periferias de Natal, entre o Beco da Vaca e Mãe Luiza, onde enfrentou estigma, exclusão e violência. Mesmo assim, Jacqueline reinventou sua história, retomou os estudos, formou-se em Geografia e nunca se afastou das ruas, dos coletivos e da luta.

A ativista esteve à frente de projetos nacionais como o “Respeite Minha Identidade”, que ajudou na retificação gratuita de documentos para dezenas de pessoas trans no Brasil, e atuou para garantir dignidade profissional a pessoas trans em empresas como a Teleperformance.
Hoje, a militância trans e travesti brasileira perde uma guerreira — mas herda o exemplo de quem fez história e abriu caminhos. Jacqueline Brasil é nome, é luta, é memória e é orgulho para todo o movimento LGBTQIAPN+ brasileiro.
Que sua força siga inspirando novas gerações de ativistas, e que a sociedade jamais esqueça das travestis e mulheres trans que, como ela, transformaram resistência em afeto, política e vida.
Descanse em poder, Jacqueline. Você é eterna.
