
Junho é, tradicionalmente, o mês de visibilidade, celebração e conquista para a comunidade LGBTQIA+. Mas também precisa ser, cada vez mais, um período de denúncia e enfrentamento às violências que persistem — inclusive aquelas que acontecem onde ninguém deveria sofrer: dentro de casa.
Um levantamento recente da Habitat para a Humanidade Brasil revela números assustadores. De acordo com dados compilados entre 2015 e 2022 pela Polícia Civil e serviços de saúde de São Paulo, 49% das violências contra pessoas LGBTQIA+ ocorreram no próprio ambiente doméstico.
E o problema começa cedo. Segundo estudo do Centro de Estudos de Cultura Contemporânea (CEDEC), 29% das pessoas trans e não binárias no município de São Paulo são expulsas de casa antes dos 15 anos, quase sempre por rejeição familiar. Expulsas, essas juventudes são empurradas para as ruas, para a informalidade e para a extrema vulnerabilidade social, tornando-se alvo fácil de outras violências.

O levantamento traz também dados do Instituto Pólis (2024): 60% das agressões LGBTfóbicas partem de familiares ou pessoas conhecidas. A violência, portanto, não está apenas nas ruas ou em espaços públicos hostis — ela começa nos lares, reforçando o ciclo de exclusão e negação de direitos.
Para Mohema Rolim, gerente de Programas da Habitat Brasil, o dado revela uma ferida antiga: “Moradia segura e digna é um direito humano básico, mas para muitas pessoas LGBTQIA+, isso ainda é negado. Precisamos falar de moradia não só como infraestrutura, mas como política de proteção de vidas dissidentes”, afirma.
A moradia, neste cenário, vai muito além de um teto sobre a cabeça. É direito, segurança, espaço de construção de identidade e cidadania. Quando a exclusão acontece no próprio lar, outros direitos como saúde, educação e trabalho também são sistematicamente negados.
Por isso, neste Mês do Orgulho, mais do que celebrar, é urgente exigir políticas públicas de proteção, moradia segura, inclusão social e combate à violência doméstica contra a população LGBTQIA+.
Porque orgulho também é viver com segurança. E isso começa dentro de casa.
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