
Ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, se retirou da Comissão de Infraestrutura do Senado após discussão sobre a BR-319 e fala de senador Plínio Valério - Foto: Lula Marques/Agência Brasil
A sessão da Comissão de Infraestrutura do Senado, nesta terça-feira (27), transformou-se em palco de um ataque misógino explícito contra a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva. Em meio a interrupções, deboches e ofensas, a ministra foi silenciada e desrespeitada por senadores, especialmente por Marcos Rogério (PL-RO), que chegou a dizer que Marina deveria “se pôr no seu lugar”.
A declaração de Marcos Rogério, carregada de autoritarismo e machismo, foi feita após cortar reiteradamente o microfone da ministra e ironizar suas falas. Marina reagiu com firmeza: “O senhor quer que eu seja uma mulher submissa. E eu não sou”. A resposta foi seguida por nova agressão verbal. “Me respeite, ministra, se ponha no teu lugar”, disse o senador, em tom imperativo e opressor.
Diante do crescente desrespeito, Marina decidiu deixar a sessão. Antes, ainda ouviu outro ataque misógino. O senador Plínio Valério (PSDB-AM) afirmou que “mulher merece respeito e a ministra, não” — frase que escancara a tentativa de desqualificar Marina não apenas como autoridade, mas como mulher. A ministra exigiu retratação. Plínio recusou. Marina se levantou e saiu.
A sessão continuou sob forte tensão. Senadoras e senadores aliados reagiram indignados. Eliziane Gama (PSD-MA) denunciou a postura de Marcos Rogério como machista e inaceitável. O líder do PT, Rogério Carvalho (SE), também repudiou os ataques e incentivou Marina a deixar o ambiente hostil.
O episódio expôs o desprezo de parte do Senado pela figura da mulher em posição de poder — especialmente uma mulher preta, de origem humilde, que ocupa uma das cadeiras mais importantes da República. O silêncio do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), diante de tamanha violência, apenas reforça o ambiente de permissividade e impunidade.
Não é a primeira vez que Marina é alvo de ataques. Em evento recente, Plínio Valério já havia zombado da ministra com uma fala nojenta: “Imaginem o que é ficar com a Marina seis horas e dez minutos sem ter vontade de enforcá-la”. Nesta terça, Marina o confrontou: “Quem brinca com a vida dos outros ou faz ameaça aos outros de brincadeira e rindo? Só os psicopatas são capazes de fazer isso”.
O Ministério das Mulheres emitiu nota oficial repudiando os ataques. “É um episódio grave, lamentável e misógino. Marina Silva foi agredida como mulher e como ministra por diversos parlamentares. Toda a nossa solidariedade a essa liderança mundial na pauta ambiental. É preciso responsabilização”, afirmou a ministra Márcia Lopes.
A escalada de machismo institucional que se viu no Senado é inadmissível em qualquer democracia. Marina Silva foi atacada não por falhas técnicas, mas por ousar não abaixar a cabeça. Por ser mulher, por ser firme, por falar verdades incômodas. O Brasil precisa decidir: vai tolerar esse tipo de violência ou vai, de uma vez por todas, enfrentá-la?