

O Brasil é um dos países mais multilíngues do mundo. Além do português, são faladas centenas de línguas indígenas no território nacional, e muitas delas estão ameaçadas de desaparecer. Para contribuir com a realização de pesquisas, documentação e difusão da diversidade linguística e cultural dos povos indígenas brasileiros, o Museu da Língua Portuguesa (MLP) e o Museu de Arqueologia e Etnologia (MAE) da USP uniram esforços e criaram o Centro de Documentação de Línguas e Culturas Indígenas.
“Língua não é só estrutura gramatical, é território, é identidade, é forma de viver e sentir o mundo. As nossas línguas indígenas guardam dentro de si as florestas inteiras, os rios, estrelas, espíritos e saberes. São 274 línguas faladas hoje no Brasil. Cada uma delas é uma biblioteca viva, uma cosmovisão, um universo em movimento. E, cada vez que uma língua indígena desaparece, o mundo perde uma forma de ser. Por isso, esse centro nasce como resistência, nasce como re-existência, nasce como semente que vai germinar conhecimento, políticas públicas, materiais pedagógicos e, acima de tudo, reconhecimento. E aqui, juntos, construímos esse grande arco de aprendizagem reconstrutiva do conhecimento”, afirmou a ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, durante a cerimônia de lançamento do Centro de Documentação de Línguas e Culturas Indígenas.
Para o reitor da USP, Carlos Gilberto Carlotti Junior, “as universidades brasileiras têm a obrigação de ampliarem suas relações com os países e os povos da América Latina. Essa é uma grande oportunidade para aperfeiçoarmos o ensino e a pesquisa que desenvolvemos, com base na parceria que estamos estabelecendo com o Museu da Língua Portuguesa e com representantes das populações indígenas. Essas interações darão uma nova cara à USP e é muito importante que possamos incorporar novos conhecimentos para nos tornarmos uma universidade melhor”.
Com financiamento de R$ 14,5 milhões da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), o centro tem o objetivo de desenvolver pesquisas inéditas e se tornar referência nacional e internacional para constituição de coleções digitais de conhecimentos intangíveis e práticas indígenas, a partir de relações de confiança e respeito para com as comunidades e especialistas indígenas envolvidos.
O presidente da Fapesp, Marco Antonio Zago, explicou que, “com esse centro, estamos cumprindo a nossa obrigação de criar uma organização sólida, capaz de promover o registro, o estudo e a divulgação das culturas indígenas, incluindo o seu rico repertório linguístico. É imperativo que as diferentes facetas da sociedade brasileira estejam igualmente representadas nos nossos esforços de ciência e educação. Apesar de todas as ações passadas para a supressão da cultura indígena, a língua indígena foi o meio predominante de comunicação em São Paulo até o século XVIII, e sua influência ainda se faz presente nos dialetos caipira e paulista”.
A cerimônia de inauguração do Centro de Documentação de Línguas e Culturas Indígenas foi realizada nesta terça-feira, dia 20 de maio, no auditório do Museu da Língua Portuguesa e contou com a presença da secretária da Cultura, Economia e Indústria Criativas do Estado de São Paulo, Marília Marton, além de lideranças e artistas indígenas e de autoridades na área de estudos de populações originárias.