
A trajetória de quem veio do corre
Como muitos nordestinos que migram para São Paulo em busca de oportunidades, Michel chegou carregando sonhos, coragem e o peso de um Brasil desigual. Antes de descobrir a faxina como profissão, passou por diferentes empregos. Foi garçom, vendedor, entregador e enfrentou o desemprego durante a pandemia, uma fase que ele conta ter sido difícil, mas onde aprendeu a não se deixar abater.
“Sempre corri atrás do meu sustento com dignidade e honestidade. Na faxina, eu encontrei não só uma forma de sobreviver, mas de crescer. Aos poucos, fui entendendo que dava pra fazer disso algo maior, com identidade, com orgulho, e assim nasceu o ‘Meu Diarista’.”
De anúncio de serviço a espaço de representatividade
O perfil no Instagram @michelmeudiarista nasceu sem grandes pretensões. A ideia inicial era simples: divulgar os serviços, conseguir clientes e seguir o corre. Mas a internet, como costuma acontecer, foi abrindo caminhos. Michel começou a compartilhar mais do que os resultados das faxinas. Mostrava o dia a dia, dava dicas, postava momentos descontraídos e, sem perceber, começou a se conectar com outras pessoas LGBTQIA+ e com quem se sentia representado em sua história.
“No começo, era só pra pegar cliente. Mas aí o pessoal começou a se identificar, a mandar mensagem, a dizer que se sentia representado. Eu percebi que, além de limpar casas, eu tava limpando preconceitos e levantando autoestima. Foi acontecendo naturalmente e hoje eu tenho muito orgulho disso.”

Assumir-se e resistir: o orgulho é político
Para Michel, se assumir como um homem gay sempre foi uma parte essencial de sua trajetória, embora não tenha sido fácil. Ele conta que já enfrentou situações de preconceito na rua e no ambiente de trabalho, mas que nunca se calou.
“Eu entendi que ser quem eu sou, com orgulho, é uma forma de resistência. Não vou me esconder. Já passei por coisa difícil, sim, mas isso só me fortaleceu. Hoje, poder trabalhar com o que eu amo, sendo abertamente gay e inspirando outras pessoas, é o que me dá gás todo dia.”
Valorizando o trabalho doméstico com dignidade
Michel também usa suas redes para falar sobre a importância e o valor do trabalho doméstico, uma função historicamente invisibilizada e marginalizada no Brasil. Para ele, mostrar a rotina, o cuidado e o profissionalismo que coloca em cada faxina é uma forma de dignificar o serviço e mudar a percepção social.
“Por muito tempo, faxina foi tratada como algo menor. Eu quero mostrar que é trabalho, que é digno, que exige técnica, atenção, respeito. E quando a gente faz com orgulho, muda a forma como as pessoas enxergam a gente. Eu recebo muita mensagem de gente que passou a valorizar diarista depois de ver meu perfil. Isso me emociona.”
O Michel além da faxina
Nas horas vagas, Michel gosta de se desconectar um pouco do corre. Dançar, ouvir música e estar com os amigos são seus maiores prazeres. Mas ele também carrega sonhos grandes.
“Quero muito viajar pra fora, conhecer outros continentes, culturas diferentes. E aprender inglês, que eu acho fundamental. Além disso, tenho vontade de criar projetos que ajudem outros profissionais da faxina, cursos, oficinas, quem sabe um coletivo. Porque eu acredito muito que uma andorinha só não faz verão.”
Uma mensagem pra quem carrega julgamentos e segue de pé
Pra encerrar, Michel deixa uma mensagem forte pra comunidade LGBTQIA+ e pra quem trabalha em áreas invisibilizadas:
“Você importa. O seu trabalho tem valor. Ser LGBTQIA+ na linha de frente dos serviços mais invisibilizados é resistência. A gente faz muito com pouco, carrega o peso de vários julgamentos, mas seguimos de pé, com dignidade e coragem. Não se esconda, ocupe seu espaço, se orgulhe da sua trajetória. Faça da sua história uma história de cinema. A nossa existência é força, é beleza e também é revolução. E é isso, viva Gays! Gays, gays, gays, gays!”