
Por Maria Fernanda
Na contramão de uma gestão que avançou em políticas públicas voltadas à diversidade sexual e de gênero, o nome de Marcelo Gil, Assessor da Diversidade na Prefeitura de Santo André, virou alvo de um movimento silencioso, mas corrosivo, dentro da própria estrutura de poder. O que deveria ser espaço de construção coletiva e interseccional tem sido, nos bastidores, palco de tentativas de apagamento, difamação e deslegitimação.
Nos últimos dias, fontes ligadas ao movimento LGBTQIAPN+ da região do Grande ABC denunciaram que duas servidoras públicas, identificadas como Cíntia (que se apresenta como diretora) e sua secretária Débora, ambas cisgênero, têm agido de forma abusiva e desrespeitosa contra Marcelo Gil, descredibilizando sua atuação e tentando esvaziar sua representatividade institucional.
Avanços reconhecidos publicamente
O histórico de Marcelo Gil fala por si. Ainda na gestão do ex-prefeito Paulo Serra, ele ocupou um cargo de destaque na Unidade de Assuntos Institucionais e Comunitários (UAIC), onde teve como superintendente José Acemel e como diretora a ativista Regina César. Foi nesse período que Marcelo Gil consolidou importantes conquistas para a população LGBTQIAPN+, sobretudo para a população trans.
Entre os avanços estão a parceria com a plataforma TransEmpregos, que promoveu oportunidades reais de trabalho para pessoas trans na cidade e região, e a primeira Semana da Diversidade de Santo André, promovida diretamente pela Prefeitura — um marco inédito. Outro feito importante foi a ação de retificação de nome social em parceria com a Defensoria Pública, iniciativa pioneira na administração pública local.
Além disso, Marcelo articulou ações com diferentes secretarias municipais, ampliando o alcance da pauta da diversidade, como a inserção da temática nas atividades da Escola de Ouro e a defesa do uso do nome social em todos os espaços públicos.
Hoje, Marcelo integra a Secretaria de Relações Políticas e Institucionais, sob liderança do secretário Donizeti Pereira, que tem atuado com escuta e sensibilidade frente às demandas da população LGBTQIAPN+.
Denúncias de sabotagem e desinformação
Apesar do currículo e das conquistas concretas, o canal de comunicação da comunidade LGBTQIAPN+ recebeu relatos alarmantes de que Cíntia e Débora vêm realizando visitas a outras prefeituras da região com o objetivo de deslegitimar Marcelo Gil. Entre as falas atribuídas às duas, estão alegações de que ele “não representa oficialmente a gestão”, “não tem conhecimento sobre a pauta LGBTQIA+” e “não tem autorização para falar em nome da Prefeitura”.
A situação é considerada grave, não apenas por seu conteúdo ofensivo e mentiroso, mas por revelar um padrão recorrente de silenciamento institucional contra pessoas LGBTQIAPN+ que ocupam espaços de poder. A atuação dessas duas mulheres cisgênero dentro do GT LGBTQIAPN+ do Consórcio Intermunicipal do Grande ABC levanta questionamentos sobre a falta de representatividade legítima no grupo e o uso do espaço para práticas excludentes.
Reações e pedidos formais da sociedade civil
A ONG ABCDS, junto com lideranças do movimento LGBTQIAPN+ da região, já articula ações jurídicas para responsabilizar as servidoras e preservar a honra e o trabalho de Marcelo Gil. Além disso, foi solicitado ao prefeito Gilvan Junior que se manifeste publicamente em defesa do assessor da diversidade, confirmando seu papel institucional e reconhecendo seu trabalho.
Também foi exigido um pedido formal de desculpas por parte de Cíntia e Débora, e que ambas sejam removidas do GT LGBTQIAPN+ do Consórcio, por agirem de forma incompatível com a proposta do grupo. A crítica central é que o espaço deveria ser ocupado majoritariamente por pessoas LGBTQIAPN+ ou por aliades com real compromisso, e não por figuras que reproduzem posturas cisnormativas e autoritárias.
O perigo da invisibilidade fabricada
O episódio escancara a fragilidade das estruturas institucionais quando o compromisso com a diversidade é apenas protocolar. Casos como o de Marcelo Gil mostram que, mesmo após anos de avanços, a presença LGBTQIAPN+ no serviço público ainda é vista como incômoda por setores conservadores. É preciso coragem para ocupar — e mais ainda para resistir ao apagamento.
Em ano pré-eleitoral, onde pautas progressistas são constantemente atacadas, a tentativa de silenciar vozes como a de Marcelo não é apenas uma questão administrativa. É política, é ideológica, e é perigosa.
A luta da comunidade LGBTQIAPN+ do ABC segue forte, com o compromisso de seguir denunciando, resistindo e construindo uma gestão pública que respeite as vivências, histórias e direitos de todas as pessoas — sem exceção.