
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, visitou a ex-presidente da Argentina, Cristina Kirchner, em seu apartamento em Buenos Aires, onde ela cumpre prisão domiciliar após ser condenada a seis anos de prisão por corrupção no caso conhecido como “Vialidad”. A visita, autorizada pela Justiça argentina, ocorreu após a participação de Lula na Cúpula do Mercosul, presidida pelo atual presidente argentino, Javier Milei. Durante o evento, o Brasil assumiu a presidência rotativa do bloco sul-americano para o segundo semestre de 2025.
Cristina Kirchner, que governou a Argentina entre 2007 e 2015 e foi vice-presidente de 2019 a 2023, foi condenada por supostas irregularidades em licitações de obras públicas na província de Santa Cruz, favorecendo o empresário Lázaro Báez. A sentença, confirmada pela Suprema Corte da Argentina em 10 de junho de 2025, também impõe a proibição vitalícia de ocupar cargos públicos. Kirchner, de 72 anos, nega as acusações e alega ser vítima de perseguição política, classificando o processo como um caso de “lawfare” (uso do sistema judicial para fins políticos). Por ter mais de 70 anos, ela tem o direito de cumprir a pena em regime domiciliar, com uso de tornozeleira eletrônica e restrições impostas pela Justiça.
A Visita de Lula
O encontro entre Lula e Kirchner durou cerca de 50 minutos e foi marcado por um gesto de solidariedade do presidente brasileiro. Em publicação nas redes sociais, Lula afirmou que encontrou Kirchner “com força e gana de luta”, destacando sua resiliência diante das adversidades. Ele expressou apoio à ex-presidente, desejando-lhe “toda a força para seguir lutando com a mesma firmeza que tem sido a marca de sua trajetória na vida e na política”. Lula também mencionou a amizade de longa data entre ambos, que vai além de relações institucionais, baseada em “carinho, afeto e ideais de justiça social e combate às desigualdades”.
Durante a visita, apoiadores de Kirchner se reuniram em frente ao apartamento no bairro de Constitución, cantando hinos peronistas e exibindo bandeiras do Partido dos Trabalhadores (PT). Uma faixa com a frase “sem medo de ser feliz, Cristina livre” foi esticada na janela, remetendo a um jingle histórico do PT. Apesar dos pedidos para que Lula e Kirchner aparecessem na varanda, o presidente brasileiro optou por não transformar o encontro em um ato político público.
Declarações de Kirchner e contexto político
Cristina Kirchner, em postagem no X, classificou a visita de Lula como “muito mais do que um gesto pessoal: um ato político de solidariedade”. Ela comparou sua situação à de Lula, que também enfrentou prisão entre 2018 e 2019 por acusações de corrupção, posteriormente anuladas pelo Supremo Tribunal Federal do Brasil. Kirchner destacou que Lula “foi perseguido, usaram lawfare contra ele, tentaram silenciá-lo, mas ele voltou pelo voto popular”. A ex-presidente também criticou o governo de Javier Milei, acusando-o de promover uma “deriva autoritária” e um “terrorismo de estado de baixa intensidade” contra manifestantes e jornalistas.
Kirchner reafirmou sua intenção de concorrer ao Congresso nas eleições legislativas de setembro de 2025, em um distrito importante da província de Buenos Aires, reduto do peronismo, movimento de centro-esquerda que ela representa. Apesar da condenação, ela mantém apoio popular significativo, como observado por Lula, que destacou o “apoio nas ruas” durante sua visita.

A relação entre Lula e Kirchner é marcada por laços políticos e pessoais. Em julho de 2019, quando Lula estava preso em Curitiba, o ex-presidente argentino Alberto Fernández, então candidato à presidência, visitou-o, com Kirchner como sua vice. Ambos os líderes afirmam ter sido alvos de perseguição judicial. Após a condenação de Kirchner em junho de 2025, Lula telefonou para expressar solidariedade, destacando sua “serenidade e determinação” diante do processo.