
Embate entre presidente e mais prestigiosa faculdade dos EUA, que se estende desde o início do ano, escalou na semana passada e chegou à Justiça após proibição de alunos estrangeiros. Medida, vetada por tribunal, afetaria cerca de 7.000 alunos. Manifestantes protestam contra ações do governo Trump que miram a Universidade de Harvard
REUTERS/Nicholas Pfosi
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ameaçou nesta segunda-feira (26) cortar US$ 3 bilhões (cerca de R$ 17 bi) de subsídios federais a Harvard e chamou a universidade mais prestigiosa do país de “extremamente antissemita”.
“Estou considerando retirar três bilhões de dólares em verbas de subsídios de uma Harvard extremamente antissemita e destinar esse dinheiro para escolas técnicas em todo o nosso país. Que investimento incrível isso seria para os EUA — e tão necessário!!!”, afirmou Trump em publicação em sua rede social Truth Social.
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Trump disse ainda estar esperando que Harvard envie uma lista de estudantes estrangeiros, exigida por ele durante o final de semana. O republicano acusou universidade de lentidão para entregar a lista, e ainda não se sabe se a instituição de fato o fará. Trump disse que um “gasto absurdo de bilhões de dólares” está sendo destinado a “lunáticos radicalizados e causadores de problemas”, em referência aos alunso estrangeiros.
O presidente americano também ironizou a decisão judicial que Harvard conseguiu em seu favor na semana passada para derrubar a proibição a alunos estrangeiros. A medida afetaria cerca de 7.000 alunos, que representa cerca de 25% do corpo estudantil da instituição. (Leia mais abaixo)
O Tribunal Federal de Boston realizará audiências nesta semana, entre terça (27) e quinta-feira (29), para examinar a suspensão imposta à medida de Trump.
Trump já havia ameaçado Harvard com a revisão de US$ 9 bilhões (cerca de R$ 50,8 bi) em financiamento federal, congelou uma primeira parcela de US$ 2,2 bilhões (R$ 12,4 bi) em subsídios e US$ 60 milhões (R$ 339 mi) em contratos oficiais. O governo dos EUA também deportou uma pesquisadora da Faculdade de Medicina de Harvard.
Proibição a alunos estrangeiros em Harvard chega à Justiça dos EUA
Governo Trump proíbe alunos estrangeiros na Universidade de Harvard
O embate entre Trump e Harvard, que se estende desde o início do ano, chegou à Justiça dos Estados Unidos na semana passada.
O governo Trump proibiu a universidade de ter estudantes estrangeiros. Entenda a proibição aqui.
Em resposta, Harvard processou o governo dos EUA. Um juiz em Boston acolheu a denúncia da universidade e derrubou a proibição de Trump.
Por enquanto, os alunos estrangeiros que estudam ou querem estudar em Harvard seguem autorizados a ter um visto americano de estudante.
A universidade afirma que a medida do governo poderia provocar “efeitos devastadores” nas vidas de cerca de 7.000 alunos da universidade que são estrangeiros e dependem do visto de estudante para residir nos EUA.
“Sem seus estudantes internacionais, Harvard não é Harvard. Com um golpe de caneta, o governo tentou apagar um quarto do corpo estudantil de Harvard, estudantes internacionais que contribuem significativamente para a universidade e nossa missão”, disse a instituição de ensino, que tem 389 anos.
A universidade também chamou a proibição do governo americano de “violação flagrante” da Primeira Emenda à Constituição dos Estados Unidos, além de outras leis federais do país.
Proibição
O Departamento de Segurança Interna (DHS, na sigla em inglês) havia afirmado que a decisão de proibir estudantes estrangeiros foi tomada porque Harvard não entregou documentos solicitados sobre seus esses alunos.
Na normativa apresentada pelo governo, os estrangeiros que já estudam na universidade deveriam se transferir para outras instituições de ensino — caso contrário, poderiam perder o direito de permanecer legalmente nos Estados Unidos.
Em carta enviada à universidade, a secretária de Segurança Interna, Kristi Noem, acusou a instituição de manter um “ambiente hostil para estudantes judeus, de promover simpatias ao Hamas e de adotar políticas racistas de diversidade, equidade e inclusão”.
Manifestantes protestam contra ações do governo Trump que miram a Universidade de Harvard
REUTERS/Nicholas Pfosi
A proibição do governo americano estava prevista para entrar em vigor no ano letivo de 2025-2026.
O texto previa que estudantes internacionais que concluíssem o curso neste semestre não seriam afetados. Já quem ainda estivesse cursando teria de se transferir para outra universidade, sob o risco de perder o visto de estudante.
Os alunos internacionais que haviam sido aceitos para começar as aulas em setembro, por sua vez, não poderiam sequer iniciar o curso.
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O governo tem poder para isso?
Sim. O DHS é o órgão responsável por autorizar quais instituições fazem parte do Programa de Estudantes e Visitantes de Intercâmbio. É esse programa que permite que as universidades emitam documentos para que estrangeiros solicitem vistos de estudo.
Presidente dos EUA, Donald Trump, durante visita a Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos.
Brian Snyder/ Reuters
Isso já aconteceu antes?
O governo americano já removeu outras instituições do programa, mas sempre por motivos administrativos — como perder credenciamento, não ter estrutura adequada, ou deixar de funcionar como uma instituição educacional de fato.
Nunca houve remoção por razões políticas, segundo especialistas.
“Eu nunca vi uma revogação por qualquer motivo além dos administrativos previstos em lei”, disse Sarah Spreitzer, vice-presidente do Conselho Americano de Educação, que representa universidades no país. “Isso é sem precedentes.”
Conflito com o governo Trump
Harvard está no centro de um embate com o governo Trump desde abril. Foi a primeira universidade de elite a se recusar a seguir as ordens da Casa Branca para limitar protestos pró-Palestina e acabar com políticas de diversidade e inclusão.
Desde então, agências federais — como o próprio DHS e os Institutos Nacionais de Saúde — suspenderam o repasse de verbas à universidade, afetando diretamente projetos de pesquisa conduzidos por professores.
A ameaça de retirar a permissão para receber estudantes estrangeiros já havia sido feita em abril. Trump também afirmou que Harvard deveria perder o status de isenção fiscal — algo que poderia comprometer a arrecadação de doações feitas por grandes financiadores da universidade.
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