
Belém do Pará é dona de muitas tradições — o Círio de Nazaré, o tacacá na cuia, o som do carimbó — mas é também palco de uma das festas LGBTQIAPN+ mais importantes e emblemáticas do país: a Festa da Chiquita. E ninguém melhor para contar essa história de resistência, cultura e orgulho do que Eloi Iglesias, o artista que deu voz, cor e corpo à celebração.
A história da Chiquita começa lá em 1978, pelas mãos do sociólogo carioca Luís Bandeira, sob o nome “Filhas da Chiquita” ou “Festa da Maria Chiquita”. Um evento ousado para a época, que já nascia como um grito pela liberdade dos corpos dissidentes em plena praça pública. Mas foi com Eloi Iglesias, cantor, performer e ativista paraense, que a festa ganhou forma definitiva e se consolidou como patrimônio afetivo e político da cena LGBTQIAPN+ da Amazônia.

Eloi não foi apenas um continuador — foi quem deu alma à festa. Com sua voz potente, figurinos marcantes e irreverência inconfundível, ele transformou a Festa da Chiquita em algo maior que uma celebração: em um ato de resistência. Um palco aberto, sob as bênçãos da virgem de Nazaré, para travestis, drags, gays, lésbicas, bissexuais, pansexuais e trans ocuparem a cidade e reafirmarem seu direito de existir, brilhar e festejar.

“A Chiquita é o meu orgulho, e o orgulho de todos nós que, por anos, tivemos que enfrentar o preconceito e a violência. Hoje, ela é resistência, mas também é alegria e celebração do nosso jeito de ser”, já declarou Eloi em entrevistas.
Uma festa histórica e popular

Realizada sempre na noite da trasladação do Círio de Nazaré, a festa acontece na Praça da República, em frente ao Theatro da Paz, reunindo milhares de pessoas que acompanham os shows, desfiles de drags e apresentações de artistas da cena LGBTQIAPN+. É tradição e resistência lado a lado, num sincretismo paraense que só Belém consegue proporcionar.
Além de ser uma das festas LGBTQIAPN+ mais antigas do Brasil, a Chiquita também ocupa um lugar especial por sua característica popular: ela não acontece dentro de um clube, mas na rua, aberta e democrática, mostrando para o mundo que o orgulho também pulsa nas veias da Amazônia.
Em tempos em que a intolerância tenta se levantar, a permanência da Festa da Chiquita — e de Eloi Iglesias à frente dela — é um ato político. Um lembrete de que orgulho também é memória, e que a cultura LGBTQIAPN+ amazônida tem rosto, nome e voz.
Eloi, o artista da resistência

Eloi Iglesias é, acima de tudo, um símbolo. Cantor e ativista, sua carreira sempre esteve atrelada às lutas pela visibilidade LGBTQIAPN+ no Norte do país. Com uma trajetória que atravessa as décadas, Eloi é reconhecido não só pela voz afinada e pelos espetáculos performáticos, mas pelo compromisso em manter viva a tradição de dar espaço para os corpos dissidentes em festas públicas e ocupar as ruas de Belém.
Eu Tenho Orgulho
A história de Eloi Iglesias e da Festa da Chiquita é mais uma que faz questão de dizer em alto e bom som: eu tenho orgulho. Orgulho de quem resiste, de quem transforma a cultura, de quem celebra a diversidade e faz história.

Vida longa à Chiquita. Vida longa a Eloi Iglesias. Vida longa ao nosso orgulho amazônico.