
Obra da pesquisadora Thaís Becker, apresentada na Faculdade de Direito (FD) da USP, mapeia os obstáculos enfrentados pelas mulheres com deficiência em busca de ajuda
Por Marcos Santos

O livro Não era amor: Narrativas sobre gênero, deficiência e violências é resultado da dissertação de mestrado intitulada “Às vezes, eu acreditava que eu não tinha valor”: Percepções de mulheres com deficiência e da Rede de Enfrentamento sobre a violência doméstica e familiar contra mulheres com deficiência, realizada por Thaís Becker Henriques Silveira e apresentada na Faculdade de Direito (FD) da USP, sob a orientação da professora Gislene Aparecida dos Santos, docente da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH), também da USP.
Segundo a pesquisadora, a ideia de transformar a dissertação em livro partiu da banca examinadora, que enxergou a necessidade de conectar mulheres com deficiência que sofrem de violência doméstica e também por ser um bom trabalho teórico, com embasamento metodológico. “Comecei a procurar editoras que estivessem interessadas em fazer a publicação e acabei fechando com a editora Casa do Direito. Fizemos a revisão da dissertação e a adaptação para o formato livro. Lançamos o livro físico no dia 19 de novembro de 2024 e a versão e-book foi lançada em maio de 2025”, diz Thaís.
Para a realização de sua obra, Thaís fez uma pesquisa qualitativa entrevistando mulheres com deficiência e profissionais da Rede de Enfrentamento à Violência Doméstica do município de Florianópolis, em Santa Catarina. “Entrevistei profissionais que trabalham nas redes de apoio e mulheres com deficiência. A partir desse diálogo tentei mapear quais os obstáculos que impedem que essas mulheres cheguem à Rede de Enfrentamento à Violência Doméstica, ou que elas identifiquem as situações de violência, porque, às vezes, nem elas percebem que estão vivendo uma situação de violência, ou, quando percebem, não conseguem acessar a rede”, diz a autora.
Thaís diz que ao decidir pesquisar sobre a violência contra mulheres com deficiência, já sabia que havia muitos relatos de situações de violências físicas, sexuais e psicológicas muito diversas e intensas, como espancamentos, inclusive na frente dos filhos, mas que, apesar disso, foi um processo muito dolorido pela sua própria história de vida. “Também sou uma mulher com deficiência e na medida que elas falavam sobre suas histórias, de alguma forma isso me impactava. Quando elas relatam que o companheiro diz que, por ela ser uma mulher com deficiência, nunca vai encontrar alguém melhor, ou, ‘eu te bato, mas eu te ajudo’, então isso, de alguma forma, também fala da minha experiência”, comenta a pesquisadora.
Outro ponto que a autora destaca em sua obra foi a necessidade dessas mulheres falarem sobre o amor para o enfrentamento da violência. “As mulheres, muitas vezes, perceberam terem vivido ou estarem vivendo situações de violência, mas quando elas começam a dialogar com outras mulheres sobre como seria uma relação saudável, constroem novas formas de narrativas e conseguem entender que sim, elas são dignas de afeto”, completa Thaís.

A pesquisadora espera que seu livro sirva para capacitar os profissionais que estão trabalhando na Rede de Enfrentamento à Violência Doméstica e para que essas mulheres tomem conhecimento de outras histórias e consigam, de alguma maneira, se emancipar. “Na verdade, tenho três grandes desejos com esse livro. Primeiramente que o livro chegue às mulheres com deficiência; em segundo, que essas mulheres consigam encontrar uma rede de apoio, com os profissionais mais bem preparados, e por último, que seu conteúdo possa incidir no aperfeiçoamento das políticas públicas de enfrentamento à violência de gênero”, diz a autora.
Mais informações: thaisbeckersilveira@gmail.com