
Pequim denuncia “bullying comercial” de Washington e alerta para impacto nas economias em desenvolvimento
Em uma carta enviada aos 193 países-membros das Nações Unidas, o governo da China acusou os Estados Unidos de intimidar a comunidade internacional e de comprometer os esforços globais por paz e desenvolvimento ao utilizar tarifas como instrumento de pressão política e econômica.
A correspondência convida os membros da ONU para uma reunião informal do Conselho de Segurança, marcada para a próxima quarta-feira (23), e tem como alvo direto a política comercial adotada por Donald Trump, presidente dos EUA. A China afirma que as medidas adotadas por Washington representam uma grave violação das regras do comércio internacional.
No convite, Pequim critica duramente o que classifica como “decisões unilaterais” da Casa Branca, que, segundo o texto, têm prejudicado especialmente os países em desenvolvimento. A administração Trump é acusada de praticar “bullying” econômico e de lançar uma sombra sobre iniciativas multilaterais voltadas ao crescimento global.
A convocação chinesa ocorre em meio à escalada da guerra comercial entre as duas maiores economias do mundo. Nesta semana, a Casa Branca anunciou tarifas de até 245% sobre produtos chineses, como resposta às ações consideradas retaliatórias por parte de Pequim. A China, por sua vez, elevou as taxas sobre produtos norte-americanos para 125%.
Em pronunciamento à imprensa, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores chinês, Lin Jian, pediu que os Estados Unidos abandonem a “pressão máxima” e parem com as ameaças, se realmente quiserem manter um canal de diálogo aberto. “A China não quer uma briga, mas também não tem medo de uma”, afirmou Lin.
Mais cedo, a porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, declarou que Trump não vê necessidade de firmar um acordo comercial com os chineses. “A bola está com a China. Eles precisam de um acordo conosco. Nós não precisamos de um acordo com eles”, disse Leavitt, enfatizando que a prioridade do governo norte-americano é o consumidor dos EUA.
A intensificação das tensões comerciais levou a Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD) a emitir um alerta: o crescimento da economia global pode cair para 2,3% em razão da incerteza causada pela disputa entre os dois países.
Em mais um movimento de retaliação, a China anunciou a suspensão da entrega de jatos da Boeing, fabricante norte-americana de aeronaves, citando diretamente as tarifas impostas por Trump como motivação.
A reunião do Conselho de Segurança da ONU deverá ser palco de mais um capítulo da disputa entre Washington e Pequim. Apesar do caráter informal do encontro, a iniciativa chinesa amplia a pressão internacional sobre os Estados Unidos e revela uma tentativa de mobilizar apoio global contra o uso das tarifas como instrumento de coerção econômica. Até o momento, o Departamento de Estado norte-americano não comentou oficialmente sobre a reunião proposta.