Acervo de Inezita Barroso começa a ser organizado no Instituto de Estudos Brasileiros da USP – Jornal da USP

Ignez Magdalena Aranha de Lima – a Inezita Barroso – nasceu na Barra Funda, bairro da zona oeste da capital paulista. Sua veia artística manifestou-se desde cedo: aos 7 anos de idade, aprendeu a cantar e a tocar violão e aos 11 demonstrou interesse pelo piano. O apelido de infância que a acompanharia pelo resto de sua carreira, Inezita, foi dado por influência das origens espanholas de sua família materna. Embora fosse paulistana, tomou gosto pelo universo rural ao visitar as fazendas de café de seus tios no interior de São Paulo, onde entrou em contato com a viola caipira e conheceu o universo das músicas folclóricas.
Ao unir a paixão pela arte com suas habilidades como bibliotecária, ela realizou pesquisas, inquéritos e análises do folclore brasileiro em vários Estados do Brasil, o que foi essencial para sua atuação na música. Como cantora profissional, começou no início da década de 1950 durante um recital no Teatro Santa Isabel, em Recife (PE), apresentação que rendeu uma temporada contratada pela Rádio Clube do Recife.
Exibindo versatilidade desde o início de sua trajetória, Inezita Barroso transitou entre variados gêneros musicais, desde sertanejo raiz e música caipira até batuque e maracatu. Em 1953, gravou o samba Ronda, de Paulo Vanzolini, e a moda Marvada Pinga, de Ochelsis Laureano – dois de seus maiores sucessos. No ano seguinte, recebeu o Prêmio Roquette Pinto como melhor cantora de rádio da música popular brasileira, e o Prêmio Guarani como melhor cantora de disco. Em seguida, passou a apresentar na TV Record Vamos Falar de Brasil, primeiro programa da televisão brasileira inteiramente dedicado à música.
Como atriz, teve papéis nos filmes Ângela (1950), O Craque (1953), Destino em Apuros (1953), É Proibido Beijar (1954) e Carnaval em Lá Maior (1955). Pela atuação no longa Mulher de Verdade (1953), recebeu o Prêmio Saci, um dos mais prestigiados do cinema brasileiro na época. Mas Inezita não deixava de trabalhar no universo musical e emplacar discos, como Canta Inezita (1955), Eu me Agarro na Viola (1960) e Clássicos da Música Caipira I (1969). Na década de 1970, dedicou-se a viajar para pesquisar música, além de realizar recitais pelo interior do País e fazer gravações para programas especiais para diversos países, entre eles a então União Soviética, Israel e Estados Unidos.
“Apesar do sucesso, a ascensão da bossa nova e da jovem guarda fez o estilo musical de Inezita ficar um pouco fora de moda nos anos 1970. Foi então que ela se reinventou e foi convidada a apresentar o Viola, Minha Viola, consolidando o gênero caipira nas últimas décadas”, explica Milani. De volta às telas em 1980, desta vez nas manhãs de domingo da TV Cultura, Inezita passou a levar a tradição folclórica aos lares brasileiros por meio do programa. Ela permaneceu no comando da apresentação até 2015, ano de sua morte.
Entre 1987 e 1996, Inezita apresentou na Rádio USP o programa semanal Mutirão, em que promovia a música caipira. Ela foi professora de Folclore Brasileiro e História da Música Popular Brasileira em três instituições de ensino superior: a Universidade de Mogi das Cruzes (UMC), o Centro Universitário Assunção (Unifai), em São Paulo, onde recebeu o título de Professora Emérita em 2005, e o Centro Universitário Capital (Unicapital), também em São Paulo, onde foi nomeada Doutora Honoris Causa, naquele mesmo ano. Foram mais de 60 anos de carreira profissional, dedicados ao rádio, cinema, teatro e televisão.
Mais informações sobre o acervo de Inezita Barroso podem ser obtidas no Laboratório de Conservação e Restauro do Instituto de Estudos Brasileiros (IEB) da USP (Avenida Professor Luciano Gualberto, 78, Cidade Universitária, em São Paulo), telefone 11 2648-1663, com a supervisora técnica Mônica Bento.