A relação entre bactérias multirresistentes e o meio ambiente – Jornal da USP

Nesta coluna, o professor Paulo Saldiva fala sobre as bactérias e fungos multirresistentes, um flagelo a ameaçar constantemente os estabelecimentos de saúde, especialmente hospitais, e sua relação com o meio ambiente. O combate aos agentes infecciosos teve início, ainda nos anos 30, com o desenvolvimento da sulfa e, mais tarde, com o da penicilina. No entanto, a partir dos anos 60, começaram, segundo Saldiva, a aparecer cepas resistentes, “até que, no final dos anos 90, começa a surgir um grande número de superbactérias e superfungos que resistem aos nossos esforços. Houve um período de encantamento com os antibióticos e depois voltamos à idade pré-antibiótico, ou seja, onde nós temos que trabalhar com assepsia, lavagem das coisas, dos objetos,  para evitarmos a infecção”. Ele conta ainda que esse crescimento exponencial das infecções provocadas por microrganismos multirresistentes foi acompanhado por um investimento progressivo no desenvolvimento de antibióticos.

Acontece, porém, que os antibióticos não são usados somente em hospitais e estabelecimentos de saúde, mas ocorrem  também na agricultura e no setor agropecuário. Com isso, explica o colunista, “há uma presença de resistência em vida livre”, com a consequente proliferação dos agentes multirresistentes, que passam a ser encontrados em amostras de solo e de água. “Com a devastação e a desertificação da terra, existem levantamentos de poeira, existem tormentas de areia, existem queimadas e a presença de patógenos que são carregados por essa poeira para longas distâncias. Enfim, nós estamos começando a ter que refletir um pouco sobre essa relação, essa globalização do uso de antibióticos e os seus meios de transporte novos por água, solo e por ar na nossa vida. Mais um motivo para a gente repensar um pouco nosso modo de vida e organizar este planeta”, finaliza.

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