
Na opinião de Carlos Eduardo Lins da Silva, o jornal tende a se transformar no único bastião de resistência ao atual governo dos EUA
Em uma palestra recente na Universidade de Notre Dame, o editor do The New York Times, A.G. Sulzberger, chamou a atenção para a ameaça sofrida pelo jornalismo independente. A partir desse pronunciamento, o professor Carlos Eduardo Lins da Silva destaca alguns aspectos que considera significativos: “O primeiro é que ele fala que a desinformação está aumentando cada vez mais e que os jornais continuam sendo uma das poucas maneiras de as pessoas obterem notícias, informação e opinião factualmente comprovadas, ou seja, não falsas, não distorcidas, e é uma coisa cada vez mais difícil de as pessoas conseguirem pelos outros meios de comunicação. O segundo aspecto que eu gostaria de destacar, a polarização e o tribalismo que continuam fazendo com que as pessoas não se falem e só se informem daquelas coisas das quais já estão convencidas. Um terceiro aspecto que talvez merecesse uma consideração é que ele fala da crescente desigualdade na sociedade americana e a impunidade pela corrupção, que é visível cada vez mais neste governo atual do presidente Trump e, como o Sulzberger diz, só quem tem condições de denunciar esses malfeitos é a imprensa independente e a imprensa independente está cada vez mais ameaçada nos Estados Unidos”.
Na sequência de seu comentário, o colunista fala sobre o aumento das assinaturas do The New York Times, que, embora aparentemente auspiciosa, não deixa de ser preocupante. “É muito preocupante, o The New York Times fechou o primeiro trimestre deste ano com 250 mil novos assinantes digitais. Em 2017, que foi o primeiro ano de governo da primeira administração Trump, o The New York Times tinha conseguido 308 mil novos assinantes. É uma diferença considerável, embora não seja tão imensa assim. O problema maior, a meu ver, não é nem essa diferença, que representa uma diminuição da intensidade da oposição dos interessados por informação independente em relação ao governo Trump. O que mais me preocupa é que, desses assinantes, só 15% de todos os assinantes do Times pagam apenas por notícias. Os outros 85% estão assinando o The New York Times, mas também estão assinando plataformas de receitas e culinária, coleções de jogos, plataforma de jornalismo esportivo; atualmente, 11,6 milhões de assinantes do The New York Times, uma grande maioria, não estão interessados apenas em notícias – ao contrário, as indicações são todas de que eles estão muito mais interessados nesses outros conteúdos que o The New York Times oferece, que não são notícia.” Aqui, Lins da Silva compara o número de assinantes do The New York Times com o dos seguidores de Elon Musk na plataforma X e o do próprio Donald Trump na mesma plataforma e também na que possui. “Quando a gente pensa que o Jeff Bezos provavelmente está vendendo o The Washington Post, e, se não vender, ele já fez tanto recuo em relação à posição de independência do The Washington Post quanto ao governo Trump, o The New York Times vai ser provavelmente, muito rapidamente, o único bastião ainda de resistência ao governo Trump e à desinformação nos Estados Unidos.”
Horizontes do Jornalismo
A coluna Horizontes do Jornalismo, com o professor Carlos Eduardo Lins da Silva, vai ao ar quinzenalmente, segunda-feira às 8h30, na Rádio USP (São Paulo 93,7; Ribeirão Preto 107,9) e também no Youtube, com produção da Rádio USP, Jornal da USP e TV USP.
.