
Diógenes Santiago, natural de Franca (SP), nasceu em 7 de março de 1923 e faleceu em 12 de agosto de 2000, na cidade de Ribeirão Preto (SP). Sua trajetória na FEB foi marcada pelo trabalho junto ao Corpo Médico da tropa, atuando na retaguarda do campo de batalha. No entanto, um episódio determinante o afastou do front: uma explosão atingiu o caminhão onde estava, provocando um ferimento em seu ouvido esquerdo e a perda da audição. Assim, ele retornou ao Brasil no início de 1945, carregando as marcas da guerra e, na memória, um dos avanços médicos mais impactantes de sua época.
Diógenes relatava um fato peculiar sobre a aplicação da penicilina no tratamento da blenorragia – ou gonorreia –, infecção bacteriana causada pela Neisseria gonorrhoeae. Vez por outra, dizia ele, pela manhã, um caminhão chegava da linha de frente do campo de batalha trazendo combatentes infectados. Muitos deles apresentavam copiosa secreção de pus pela uretra, um sintoma característico da doença. Assim que desembarcavam, os soldados eram “perfilados” e recebiam uma dose única de penicilina, cuja quantidade exata Diógenes não especificou, mas que, à época, deveria ser relativamente baixa, já que ainda não haviam surgido cepas resistentes da bactéria.
O dado mais impressionante vinha a seguir: à tarde, os mesmos soldados que haviam chegado debilitados pela infecção eram liberados para retornar ao front, completamente “secos”, sem mais apresentar corrimento uretral. Esse testemunho direto da eficácia da penicilina ilustra o impacto revolucionário do medicamento, consolidando sua reputação como uma das maiores descobertas da medicina.
A penicilina, descoberta pelo médico e cientista inglês Sir Alexander Fleming em setembro de 1928, transformou radicalmente o tratamento de infecções bacterianas. Sir Alexander Fleming nasceu em 6 de agosto de 1881, em Lochfield (Ayrshire, Escócia), e faleceu em 11 de março de 1955 em Londres (UK). Recebeu o Prêmio Nobel de Fisiologia ou Medicina em 1945, juntamente com Ernst B. Chain e Howard W. Florey, responsáveis pelo desenvolvimento de um método de purificação e produção do antibiótico em escala comercial. Seu impacto foi profundo e, durante a década de 1950, Sir Alexander Fleming visitou o Brasil e esteve na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP, a convite do então diretor Zeferino Vaz.
A visita rendeu-lhe o título de Cidadão Ribeirão-pretano, concedido pela Câmara Municipal da cidade por meio da Lei Nº 352/1954. Como não foi possível realizar uma sessão solene para a entrega do título, o professor Octávio Baracchini, da então FOF — Faculdade de Odontologia e Farmácia de Ribeirão Preto, hoje desmembrada em Faculdades de Odontologia (FORP) e de Ciências Farmacêuticas (FCFRP) —, viajou até Londres para entregar o título à esposa do Sir Alexander Fleming, em solenidade realizada no Saint Mary Hospital (Paddington, London, UK). A propósito, Fleming já havia falecido. Além disso, em homenagem ao cientista, Ribeirão Preto nomeou uma rua no bairro Vila Seixas com o seu nome, perpetuando seu legado.
A história de Diógenes Santiago e seu testemunho sobre a aplicação da penicilina nos campos de batalha nos lembram que a guerra não é feita apenas de estratégias e batalhas, mas também de vidas humanas impactadas por avanços científicos. A penicilina não apenas devolveu soldados ao front; ela redefiniu os rumos da medicina e provou que, mesmo em tempos sombrios, a ciência pode ser uma ferramenta de esperança.
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