
Deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP) | Foto: Pedro Ladeira/Folhapress
A deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP) teve seu gênero registrado como masculino no visto concedido pelo governo dos Estados Unidos para participar da Brazil Conference at Harvard & MIT 2025, em Cambridge. A viagem, considerada missão oficial da Câmara dos Deputados, teve o visto solicitado diretamente pelo Legislativo brasileiro junto à Embaixada dos EUA.
Erika, uma das primeiras mulheres trans a ocupar uma cadeira na Câmara dos Deputados, já havia obtido, em 2023, um visto com o gênero feminino, em conformidade com sua identidade. Desta vez, porém, o documento, emitido em 3 de abril, trouxe a identificação como gênero masculino, sem que essa informação tivesse sido apresentada ou comunicada em qualquer etapa do processo, segundo sua equipe.
A solicitação do visto seguiu orientações atualizadas do governo norte-americano. Ainda de acordo com a assessoria da parlamentar, inicialmente foi sugerido que o pedido fosse feito como visto de turista, ou que eventuais divergências fossem corrigidas posteriormente.
Diante do equívoco, Erika optou por não utilizar o documento e decidiu não comparecer ao evento. Em nota pública, ela classificou o episódio como um caso de “transfobia de Estado”, e cobrou um posicionamento do Itamaraty, especialmente por se tratar de uma missão oficial do Legislativo brasileiro.
“É absurdo que o ódio que Donald Trump nutre e estimula contra as pessoas trans tenha esbarrado em uma parlamentar brasileira, indo representar a Câmara dos Deputados em uma missão oficial”, declarou Hilton.
O episódio acontece em meio a sinais de endurecimento de políticas conservadoras nos EUA, impulsionadas pelo retorno de diretrizes da era Trump. Durante seu governo, o republicano impôs diversas restrições ao reconhecimento de pessoas transgênero, além de ordenar a remoção de termos como “gay”, “lésbica”, “transgênero” e “LGBTQ” de documentos e sites oficiais.
Eleita deputada federal em 2022 com mais de 256 mil votos, Erika Hilton é referência na defesa dos direitos da população LGBTQIA+. Foi a vereadora mais votada de São Paulo em 2020 e a primeira mulher trans a ocupar uma cadeira na Câmara Municipal da capital. Atualmente, lidera a bancada PSOL-Rede no Congresso Nacional, sendo a primeira deputada trans a ocupar essa posição de liderança no Parlamento.