
Carlos Eduardo Lins da Silva comenta proposta de uma jornalista da “Folha de S. Paulo”, de que o jornal deveria fechar sua seção de comentários devido ao baixo nível destes
Uma colunista da Folha de S.Paulo, Mariliz Pereira Jorge, propôs recentemente que o jornal fechasse sua seção de comentários devido ao baixo nível destes, assunto que acabou virando tema da ombudsman Alexandra Moraes. Ao comentar o episódio nesta sua coluna para a Rádio USP, o professor Carlos Eduardo Lins da Silva remete a uma famosa fala do escritor, linguista e semiólogo italiano Umberto Eco, que disse, certa vez, que a internet e as plataformas de redes sociais tinham dado voz a uma legião de imbecis. Ao emitir a opinião de que não concorda totalmente com a autora da proposta de que a Folha feche sua seção de comentários, Lins da Silva explica seu ponto de vista, especulando a respeito de que não se pode trocar de público. “Uma vez que você deu espaço, você não vai poder tirar esse espaço dos comentários sem ser acusado de estar praticando censura”. Ele lembra ainda que ninguém é obrigado a ler os comentários, que, historicamente, sempre foram mais uma questão de moderação do que de qualquer outra coisa.
“O problema da qualidade dos comentários é a ausência ou má prática da moderação”, diz o colunista, citando um exemplo da própria Folha de S.Paulo, que, de acordo com ele, possui bons padrões de comportamento para os comentários. “O problema é que, apesar de ter uma boa cartilha de comportamento para os comentários, a Folha e a maioria dos outros veículos, senão todos, não exercem a moderação de maneira apropriada. Por quê? Porque é caro, é um custo grande, você não pode delegar isso à inteligência artificial. Para poder fazer uma moderação de bom nível, você precisa de pessoas, pessoas custam dinheiro, e o jornalismo, como a gente sabe, sofre uma escassez de recursos muito grande”. Para o colunista, a saída também não seria a de investir na moderação de comentários em vez de investir em reportagem, como questiona a ombudsman da Folha em certo trecho de sua coluna. “A dificuldade agora é a quantidade de pessoas que fazem isso e a quantidade de pessoas que têm acesso a esses comentários. Isso é que torna o problema uma questão social, ética, do jornalismo contemporâneo”, ressalta Lins da Silva.
Horizontes do Jornalismo
A coluna Horizontes do Jornalismo, com o professor Carlos Eduardo Lins da Silva, vai ao ar quinzenalmente, segunda-feira às 8h30, na Rádio USP (São Paulo 93,7; Ribeirão Preto 107,9) e também no Youtube, com produção da Rádio USP, Jornal da USP e TV USP.
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