'Virei garota de programa por causa do alcoolismo': o drama de mulheres em tratamento contra a dependência de álcool


Um levantamento feito entre 2016 e 2020 pelo Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (CISA) mostra que o consumo abusivo de álcool entre as mulheres foi o que mais aumentou, passando de 7,8% para 16%. Mulheres passam por tratamento de dependência de álcool em clínica de reabilitação
O Profissão Repórter desta terça-feira (16) mostrou a rotina de mulheres em tratamento para a dependência de álcool em uma clínica de recuperação particular localizada em Atibaia, no interior de São Paulo. A ala feminina da clínica tem 11 vagas e a maioria das pacientes enfrenta o alcoolismo. A mensalidade custa a partir de R$ 12 mil, e a internação dura, em média, seis meses.
Luana Meneghetti, de 23 anos, já passou por 11 internações em três anos. Diagnosticada com alcoolismo e depressão, ela não tem contato com os pais, mas o plano de saúde da família cobre o tratamento.
“Eu cheguei em meia-hora tomar uma garrafa de uísque sozinha. O alcoolismo destruiu minha vida. Eu estava de quatro meses de gestação, eu perdi o bebê. Eu me envolvi numa briga e na briga acabei apanhando e acabei perdendo o bebê. Eu entrei na vida de garota de programa por causa do alcoolismo. Então, dessa vez eu vim com uma carga muito grande para essa internação, então acredito que vai dar certo”, conta a jovem.
Elis Regina Cadamuro, outra paciente, conseguiu recuperar quatro quilos nos três primeiros meses de internação. Ela conta que a dependência de álcool começou há 3 anos, depois que o pai e os cachorros dela morreram.
“Quando a gente está no alcoolismo, a gente não sabe o que faz, não tem consciência do que faz. Bebia uma latinha, bebia duas, bebia três, nada. Nada fazia eu parar. Deixei de ajudar meu irmão, que ele tem um consultório, deixei de compartilhar com a minha mãe, com meu filho. Faltei com muito respeito com a minha família por causa do álcool (chora)”, diz Eliz emocionada.
Ela mantém contato com a família apenas ligação, uma vez por semana.
“No casamento do meu filho eu bebi, eu caí. Quebrei o ombro e quebrei o punho”, relembra.
A médica especialista em dependência química, Thaís Souza, afirma que a internação de dependentes precisa ser uma indicação de um profissional.
“A internação tem que ter uma indicação. É muito pontual, tem que ser realizada por um médico indicada por um médico especialista. Não é simplesmente chegar e falar ‘eu quero internar’ e pronto, não. Tem toda uma indicação”.
“Quando você tira o álcool, é os seus bichos de dentro aparecem, então você começa a trabalhar realmente aquilo que estava te machucando. O autoconhecimento é a chave da saída. É você se entregar realmente a terapia. A gente chegou ao ponto da internação, né? Tem muita gente que não precisa chegar a esse ponto de internação. O mais importante é aceitar a sua doença”, desabafa a flautista Denise Chama.
Profissão Repórter mostra a rotina de mulheres em tratamento para a dependência de álcool em uma clínica de recuperação particular em Atibaia
Reprodução/TV Globo
‘Tomei etanol’
‘Tomei etanol’, diz mulher com dependência de álcool
Um levantamento feito entre 2016 e 2020 pelo Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (CISA) mostra que o consumo abusivo de álcool entre as mulheres foi o que mais aumentou, passando de 7,8% para 16%.
Em um Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas (CAPS AD) em São Paulo, o Profissão Repórter acompanhou uma terapia em grupo voltada para mulheres.
Elaine Souza, uma das participantes, já perdeu as contas de quantas vezes tentou parar de beber nos últimos dez anos.
“Não tem ninguém bebendo do meu lado e eu estou sentindo cheiro de álcool. É muito louco isso.”
Durante uma crise de abstinência, Elaine voltou a procurar ajuda.
“Se naquele dia eu não tivesse ficado aqui, eu teria me matado. Vocês salvaram a minha vida.”
Elaine conseguiu ficar três meses em tratamento e, devido à boa evolução, teve acesso ao Programa de Operação e Trabalho da Prefeitura de São Paulo. O benefício paga cerca de um salário mínimo para desempregados, mas exige que a pessoa continue o tratamento.
“Hoje eu posso falar que sou alguém produtiva na sociedade. Mas é um dia de cada vez e, todo dia, muita vontade de beber., mas estou indo”
Dois meses depois, a equipe do Profissão Repórter reencontrou Elaine, mas ela não apareceu na unidade. A reportagem foi até sua casa e encontrou a paciente abalada.
“Fiquei longe do álcool por 79 dias. Infelizmente, tive uma recaída.”
Com a recaída, Elaine perdeu o benefício da prefeitura e interrompeu o tratamento.
“Eu venho lutando contra o álcool desde a primeira dose que eu tomei com seis anos, escondida. Com 12 anos, eu entrei em outra substância, mas depois eu retornei ao álcool. E o álcool devastou minha vida, tanto que eu tomei etanol”.
Elaine diz que a maior perda foi a guarda da filha caçula, de 11 anos.
“Se não fosse por ela, eu já teria desistido. Eu vou lutar com todas as minhas forças para pegar você de volta”.
‘Tomei etanol’, diz mulher com dependência de álcool
Reprodução/TV Globo
Veja a íntegra do programa abaixo:
Edição de 18/03/2025
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Mulheres passam por tratamento de dependência de álcool em clínica de reabilitação

Por G1

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