Do roteiro à direção: as cineastas que estão reinventando o cinema brasileiro

Por Juliana Gomes

Durante anos, o cinema brasileiro foi majoritariamente moldado por uma perspectiva masculina, deixando de lado olhares e narrativas que poderiam enriquecer ainda mais a diversidade da nossa produção audiovisual. Mas essa realidade está mudando.

Com histórias potentes e domínio técnico impecável, cineastas mulheres vêm assumindo um protagonismo essencial na renovação da sétima arte no Brasil. Elas não apenas conquistam espaço, mas ressignificam o cinema nacional, trazendo novas formas de contar histórias, discutir identidade, abordar o feminino e retratar as complexidades da sociedade brasileira.

A seguir, um panorama de algumas das cineastas que estão transformando o cenário cinematográfico do Brasil e suas contribuições para um futuro mais plural e inovador.

Juliana Rojas: A reinvenção do cinema de gênero

Juliana Rojas se destaca pelo domínio do cinema de gênero, misturando elementos do horror, do fantástico e do realismo social para criar narrativas impactantes. Seus trabalhos, como “Trabalhar Cansa” (2011), dirigido em parceria com Marco Dutra, e “As Boas Maneiras” (2017), desafiam convenções e exploram temas como maternidade, desigualdade social e repressão. Seu mais recente longa, “Cidade; Campo” (2024), selecionado para a Berlinale Encounters, reafirma sua habilidade em tensionar realidades e construir histórias inquietantes.

Carolina Markowicz: O Brasil cru e ironicamente real

Com uma assinatura marcante, Carolina Markowicz utiliza o cinema para revelar um Brasil muitas vezes negligenciado. Seu longa “Pedágio” (2023), premiado no Festival de San Sebastián, explora temas como moralidade e desigualdade por meio de um humor ácido e personagens complexos. Antes disso, já havia chamado atenção com “Carvão” (2022), onde mescla tragédia e comédia para refletir sobre as contradições de uma sociedade em crise.

Petra Costa: Política e memória em primeiro plano

O cinema de Petra Costa é um convite à reflexão sobre política, identidade e memória. Seu documentário “Democracia em Vertigem” (2019) foi indicado ao Oscar e se tornou um dos filmes mais emblemáticos sobre os bastidores da crise política no Brasil. Sua abordagem intimista transforma suas obras em relatos profundamente pessoais e, ao mesmo tempo, universais, como já havia feito em “Elena” (2012), ao explorar a dor da perda e as complexidades das relações familiares.

Lillah Halla: Identidade, corpo e resistência

Lillah Halla tem sido um dos nomes mais comentados do cinema brasileiro recente. Seu curta “Menarca” (2020), selecionado para a Semana da Crítica de Cannes, abordou a construção do feminino em uma sociedade patriarcal. Seu primeiro longa, “Levante” (2023), premiado no Festival de Cannes, reafirmou seu compromisso com narrativas que exploram a autonomia dos corpos e a luta contra opressões institucionais.

Anna Muylaert e Laís Bodanzky: O olhar feminino sobre o cotidiano brasileiro

Anna Muylaert e Laís Bodanzky são fundamentais para entender a evolução do cinema brasileiro contemporâneo. “Que Horas Ela Volta?” (2015), de Muylaert, escancarou as desigualdades sociais por meio da história de uma empregada doméstica e sua filha, conquistando prêmios internacionais. Já Bodanzky, com “Bicho de Sete Cabeças” (2000) e “Como Nossos Pais” (2017), investiga conflitos familiares e os desafios da maturidade com uma sensibilidade única.

Tata Amaral, Suzana Amaral e Helena Solberg: Vozes pioneiras

Helena Solberg, que iniciou sua trajetória no Cinema Novo, é uma das grandes documentaristas do país, abordando o papel da mulher na sociedade em filmes como “Carmen Miranda: Banana is My Business” (1995). Tata Amaral, com obras como “Antônia” (2006), trouxe a periferia e o protagonismo feminino negro para o centro das narrativas. Já Suzana Amaral marcou o cinema nacional com “A Hora da Estrela” (1985), adaptando a obra de Clarice Lispector e criando uma das protagonistas mais icônicas do cinema brasileiro.

Novas vozes: O futuro está chegando

Além das cineastas já consolidadas, uma nova geração de diretoras vem ganhando espaço e ampliando ainda mais a diversidade do cinema nacional. Juliana Vicente, com sua produtora Preta Portê Filmes, tem promovido a representatividade negra no audiovisual. Renata Pinheiro, com “King Kong en Asunción” (2020), continua a explorar novas possibilidades narrativas. Nomes como Gabriela Amaral Almeida (“A Sombra do Pai”), Marina Meliande (“Mormaço”) e Carol Rodrigues (“Aquela Que Morava Perto dos Trilhos”) são promessas de um cinema ousado e inovador.

O cinema brasileiro nunca mais será o mesmo

A presença dessas diretoras é essencial para a renovação do cinema brasileiro. Elas não apenas ampliam a representatividade, mas desafiam formas tradicionais de contar histórias, trazendo novos pontos de vista e explorando temas antes marginalizados. Se antes o cinema nacional tinha um olhar homogêneo, hoje ele é múltiplo, diverso e, mais do que nunca, feminino.

Texto produzido em colaboração a partir da Comunidade Cine Ninja. Seu conteúdo não expressa, necessariamente, a opinião oficial da Cine Ninja ou Mídia NINJA.

Por Midia Ninja

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