
Por Autres Brésils
Durante o mês de junho de 2025, Paris se transformou em um palco vibrante para vozes e narrativas do Brasil. O festival Dialogues en Mouvement, promovido pela associação Autres Brésils como parte da Temporada Brasil-França 2025, propõe uma imersão artística e política nas complexidades e riquezas do Brasil atual. Com uma programação que começou dia 12 de junho e se estendeu até o dia 24, o evento ocupou diversos espaços emblemáticos da capital francesa com atividades que cruzam ativismo, cinema, literatura, fotografia, música, masterclasses e performance.

Destaque para a exposição fotográfica Gardiens de l’Amazonie, assinada por Antoine Olivier e J.L. Bulcão, que retrata o cotidiano das comunidades tradicionais da Amazônia, evidenciando suas formas de resistência e a luta pela preservação ambiental. A mostra esteve em exibição nos Champs-Élysées (3 a 20 de junho) e no calçadão do Hôtel de Ville (20 a 24 de junho).
Durante três dias intensos no Théâtre de la Concorde, artistas, cineastas, escritores e ativistas se encontraram com o público para debates, projeções e apresentações performáticas. A conferência de abertura foi conduzida por Ângela Mendes, presidenta do Comitê Chico Mendes e filha do icônico líder seringueiro, que hoje atua como referência no ativismo socioambiental e na defesa dos povos originários da Amazônia.

No cinema, nomes de peso como Lúcia Murat e Marcelo Gomes trouxeram reflexões sobre temas como memória, educação e migração. Outra presença marcante foi a do ator Fernando Alves Pinto, que apresentou o aclamado filme Terra Estrangeira, de Walter Salles e Daniela Thomas, e compartilhou suas experiências sobre o impacto do exílio e do deslocamento na arte e na vida.
O coletivo Katahirine, primeira rede de mulheres indígenas no cinema brasileiro, emocionou o público com uma seleção de curtas-metragens, conversas potentes e uma performance artística sobre representação e ancestralidade.

Na literatura, Geni Núñez – autora de Descolonizar os afetos – trouxe discussões fundamentais sobre como o colonialismo moldou nossas formas de amar, sentir e nos relacionar, convidando à construção de afetos mais livres e conscientes. Bela Gil – autora de Quem vai fazer essa comida ? – compartilhou suas reflexões sobre o cuidado, a igualdade no trabalho doméstico e a importância de uma alimentação saudável como forma de justiça social.
Para encerrar o festival em tom de celebração, a roda de samba com o grupo Samba à la Maison reuniu artistas e público num momento de pura alegria e partilha.

Dialogues en Mouvement constrói pontes entre o Brasil e a França, promovendo encontros onde o reconhecimento através das semelhanças e o crescimento pelas diferenças se tornam possíveis. A proposta da Autres Brésils é revelar um Brasil plural, criativo e resistente, em consonância com os valores da Temporada Brasil-França.
Em junho na França, a arte brasileira não é adorno: é ferramenta de resistência, de memória e de transformação. Em Paris, o Brasil pulsa — em movimento, com toda sua força e diversidade.