
Falar sobre envelhecer na comunidade LGBT+ é reconhecer os desafios, mas também celebrar os legados. É nesse território de memória e construção de futuros que se inscreve a trajetória de Heitor Werneck (58) — um homem gay, artista, gestor da diversidade e figura essencial na cena cultural e política LGBT de São Paulo.
Com uma carreira de mais de 35 anos de trabalho dedicado à comunidade LGBT+, Werneck tem sido mais do que um produtor ou um criador: é um articulador incansável de ações que integram arte, inclusão social e direitos humanos. Diretor artístico da Parada do Orgulho LGBT de São Paulo, ele é também reconhecido por sua ousadia estética — seus figurinos inusitados e sua linguagem visual o tornaram uma referência quando o assunto é moda e identidade.
Mas seu alcance vai além do palco. Aos domingos, ele coordena ações beneficentes no Viaduto 9 de Julho, levando café e dignidade a pessoas em situação de rua, com atenção especial à população LGBT+ e pessoas com deficiência. É essa atuação direta, de quem coloca o corpo e o afeto no centro das ações, que o torna símbolo de resistência cotidiana.
Em 2024, levou ao sambódromo uma das mais marcantes homenagens à comunidade LGBTQIA+: a ala fetichista em forma de ballroom, dentro do desfile da escola Terceiro Milênio.
Heitor é criador da Festa Luxúria em São Paulo. Uma ode à liberdade, ao corpo e à história queer, com estética transgressora e potência política.
Quase sexagenário, Werneck é também memória viva da cultura pop brasileira — foi ele quem criou o icônico personagem Alexandre, da novela A Viagem (1994), mostrando desde então que a arte pode ser meio e mensagem.
Mais do que envelhecer, Heitor Werneck amadurece com propósito. É um homem que consome cultura, arte e devolve à cidade com contratações, oportunidades e visibilidade. Reconhecido por ser um dos produtores que mais emprega artistas LGBT+ ao longo do ano, é a prova viva de que longevidade e relevância caminham juntas.
Heitor propõe a união do movimento para que não fiquemos reféns do conservadorismo. Com isso, conseguimos proteger a força da nossa voz e da nossa existência — tanto na Feira quanto na Parada
Vale ressaltar e validar a inclusão de autistas em todos setores,uma das bandeiras que bravamente luta e veste a camisa em defesa desses corpos. O produtor segue criando — enxergando o que muitos ainda não veem, plantando o futuro com sensibilidade e coragem.
“Envelhecer LGBT+” não é apenas um tema — é um manifesto. E Heitor é exemplo de quem plantou sementes e segue germinando futuros. Com voz firme e ações concretas, ele mostra que chegar aos 50+ é também afirmar que ainda há muito a fazer — e que ele continua fazendo.Viver no mesmo tempo que esse Divino é ter a certeza de que estamos presenciando uma mudança profunda. É saber que pessoas LGBTs, com mais de 50 anos, com deficiência, autistas e tantas outras que historicamente foram invisibilizadas, hoje tem voz, tem lugar. Com ele, essas identidades ocupam espaços de pertencimento, respeito e relevância na sociedade. Em sua trajetória, vemos não só resistência, mas também acolhimento, espiritualidade e transformação. É sobre existir com dignidade. É sobre fazer história com coragem.