Théméricourt, França – O terceiro e último dia do Peoples for Forests – Global Gathering foi uma afirmação coletiva de vida, legado e futuro. Mais de 130 defensoras e defensores das florestas, vindos de 56 países, encerraram este encontro entre cantos, abraços e a profunda convicção de que outra forma de habitar o planeta é possível — uma em que a justiça climática coloca os povos que cuidam da Terra no centro das decisões.
Plenária da COP30: Conectar lutas, alinhar mensagens
O dia começou com uma plenária dedicada às estratégias de incidência para a COP30. Ativistas de todos os continentes compartilharam propostas para garantir que as decisões globais sobre o clima incluam a voz, a experiência e o protagonismo dos povos que protegem as florestas há gerações.
Em meio aos debates, tornou-se evidente uma ausência gritante nas negociações oficiais. Como destacou Samuel Rubin Vicens:
“A palavra ‘tecnologia’ foi mencionada 33 vezes; ‘cultura’ não apareceu nenhuma vez nas 29 decisões finais da COP. Temos muito trabalho a fazer. Porque cultura é herança, é adaptação. O artigo 7 do Acordo de Paris fala sobre adaptação global, e isso inclui o conhecimento indígena e os legados culturais.”
A plenária deixou claro: sem culturas vivas e povos no centro, não haverá solução justa nem verdadeira para a crise climática.
Foto: Katie MaehlerFoto: Katie Maehler
Marielle Vive: Cerimônia em homenagem a uma vida semeada de lutas
Um dos momentos mais emocionantes do dia foi a cerimônia em homenagem a Marielle Ramires — comunicadora, ativista e fundadora da Mídia Ninja, Casa Ninja Amazônia, Clímax e muitos outros projetos transformadores. Em sua memória, formou-se um círculo de afeto, palavras e música que tocou profundamente quem a conheceu e quem herda seu fogo.
“Porque digo que luta é igual a mato. Você pode cortar, arrancar, tentar eliminar. Mas volta a crescer em liberdade. Porque essa é a dinâmica da vida.” — Marielle Ramires
Essa frase ecoou como um mantra ao longo do dia. Marielle foi lembrada não apenas por seu ativismo, mas por sua alegria, sua ternura radical e sua insistência na vida como revolução. Seu legado vive neste encontro e floresce em cada território que luta por justiça.
Feira de Soluções: propostas e saberes que florescem
A Feira de Soluções foi um verdadeiro desfile de criatividade ancestral. Delegações de diversos países compartilharam projetos comunitários que já estão transformando realidades. Longe das falsas soluções que mercantilizam a vida, essas propostas mostraram que os povos não apenas resistem: criam e cuidam do planeta e da vida.
Reafirmou-se, várias vezes, que as soluções não virão de cima — elas já existem, nascidas do conhecimento ancestral, do enraizamento local e da cooperação solidária.
Como disse Lucía Ixchiu, ativista maia quiché da Guatemala:
“Saí do meu país para viver, saí do meu território para descobrir o mundo, para reconhecer que a Terra, nossa mãe, é uma só e que caminhamos por ela; que todas as árvores importam, todos os rios importam, todos os biomas importam. E somos as vozes, os filhos e filhas, as raízes da mãe Terra. Nesta história, não somos vítimas. Somos esperança, somos alegria e dignidade.”
Foto: Katie MaehlerFoto: Katie Maehler
Cerimônia de Encerramento: levamos a floresta dentro de nós
Antes da foto oficial, os participantes compartilharam palavras para levar consigo: raiz, força, ternura, comunidade, rebeldia, horizonte. O encerramento foi mais do que uma despedida — foi um ritual coletivo. Um compromisso renovado com os territórios e lutas comuns.
Nas palavras da ativista malaia Celine Lim:
“Eu não teria sobrevivido se não tivesse me conectado com os que vieram antes de mim e com os que virão depois. O que defendemos é tão valioso que morreríamos por isso, mas também deveríamos viver por isso.”
Samba pela Vida: celebrar como ato de rebeldia
À noite, a alegria tomou forma de tambor e movimento. O círculo de samba com Parioka foi uma celebração do vivido — uma afirmação de que a luta também se dança, se canta e se compartilha. Porque nestes tempos de devastação, a alegria também é uma trincheira.
Peoples for Forests continua crescendo
O encontro termina, mas suas raízes se espalham pelo mundo. Da Amazônia ao Congo, dos Himalaias aos Andes, das ilhas do Pacífico aos povos do Sahel: uma rede viva de alianças, saberes e afetos que continuará pulsando em cada luta local.